domingo, 7 de abril de 2024

PERANTE O TRIBUNAL DA HISTÓRIA (25/04/1936)

 Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

PERANTE O TRIBUNAL DA HISTÓRIA (25/04/1936)

Plínio Salgado

Escrevo estas linhas, meus caros camisas-verdes, como subsídio para a História da nossa Pátria. Um dia, o historiador terá de estudar este momento que atravessamos. Dentro deste momento, a posteridade encontrará o Integralismo. Terá de estudá-lo, na sua significação, na sua extensão, no seu volume, na sua projeção nacional e na sua repercussão no estrangeiro. Terão, ainda os pósteros, de estudar, na hora presente, o surto comunista, a penetração da propaganda e das organizações secretas de Moscou, O crítico da História examinará o que representou o Integralismo como reação do organismo nacional penetrado do vírus deletério da corrupção. Estudará a atuação dos partidos políticos. Examinará a atitude dos homens de governo. Deduzirá conclusões para os julgamentos que pertencem ao Futuro.

Escrevo, pois, estas linhas, não para vós, nem para os nossos contemporâneos, porém, para aqueles cujo julgamento será definitivo, em face de tudo o que ainda pode acontecer no Brasil.

Não estou compondo um artigo, não estou nem louvando, nem comentando, nem julgando, pois louvor, acusação, comentário, "veredictum", a mim não me pertencem, que sou parte no feito, nem me competiria antecipar aquilo que a seu tempo chegará.

Quero, aqui, apenas, registrar fatos, para que não haja enganos de futuro e se conheçam, com exatidão, as posições assumidas e as responsabilidades definidas nesta hora incerta.

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O Integralismo está sendo perseguido na Bahia, em Minas Gerais, no Paraná, no Rio Grande do Norte, como já o foi, até há pouco, em Santa Catarina.

Escrevo estas linhas no ano de mil novecentos e trinta e seis, no mês de abril, dia 24, em que recebi um telegrama do nosso chefe provincial do Paraná, anunciando que o governo do Estado acaba de determinar o fechamento de todos os núcleos integralistas no território paranaense.

Nesta mesma ocasião, recebo numerosas cartas da Bahia, desesperadas, aflitas, de camisas-verdes do sertão (região de Canudos), das zonas do cacau e do tabaco, e vários pontos do litoral, comunicando tudo quanto ali estão sofrendo os integralistas: vexames, violências, restrições a todas as liberdades.

Também, nesta data, os jornais do Rio publicam um ofício do chefe de Polícia de Minas Gerais, à Corte de Apelação, atendendo ao pedido de informações daquele tribunal em autos de "habeas-corpus", impetrado a favor de camisas-verdes da pequenina cidade de Jacutinga, presos Ilegalmente, ofício em que aquela autoridade informa que os integralistas em questão tramam contra a segurança do Estado. O chefe de Polícia declara não poder revelar as provas da tremenda conspiração dos moços de Jacutinga, cidadezinha cujo nome só agora está em foco, em razão da importância que lhe deu nestes oito milhões de quilômetros quadrados a polícia de Minas Gerais.

Neste mesmo dia 24 de abril de mil novecentos e trinta e seis, V Ano da Era Integralista, o Chefe de Polícia da Capital da República, na vigência do "estado de guerra" decretado pelo Chefe da Nação, declara em carta, que se tornou documento público, pelas colunas do Jornal A OFFENSIVA, contemporâneo destes acontecimentos, o seguinte:

"Respondendo sua carta de 15 do corrente, na qual V. S. me pede para dar o meu testemunho de que a Acção Integralista Brasileira nenhuma restrição ou constrangimento tem sofrido, no Distrito Federal, mesmo com o "estado de guerra", pelo que vem e continua funcionando em todos os seus departamentos, tenho a satisfação de declarar a V. S que, de fato, nenhuma restrição foi feita ou determinada por esta chefia de Polícia com relação a A.I.B.

Esta orientação foi adotada, por se tratar, no caso, de um partido político, legalmente registrado no Supremo Tribunal de Justiça Eleitoral, que, até o presente momento, tem feito sua propaganda dentro da ordem, nada justificando, portanto, uma ação repressiva contra o mesmo.

Com alta estima e consideração, sou de V. S. patrício e ad. Attº. - (a.) F. MULLER."

Não quero, de modo nenhum, julgar aqueles perseguidores do Integralismo e este Chefe de Polícia, cujo nome é Filinto Muller, e que se exprime pela forma acima.

Não me compete julgar o Integralismo. Não me esqueço da carta que Plinio, a Moço, governador da Bitinia, dirigiu ao Imperador Trajano, sobre os cristãos. O autor das "Cartas", espírito atilado, compreendeu que não deveria avançar um juízo, sendo contemporâneo dos fatos de que tratava. Sua missiva é meramente expositiva.

E hoje eu não estou escrevendo como Chefe do Integralismo, e sim, oferecendo um testemunho aos historiadores do Futuro. Esses, estudarão o que foi o Integralismo, o que ele pretendeu (e. posso dizer mesmo o que ele realizou, pois, a nossa vitória agora se tornou fatal, depois das perseguições). E é bom que os historiadores saibam quais os perseguidores desse movimento e quais as autoridades que não agiram contra ele.

Andará bem o sr. Filinto Muller, ou andarão bem os governadores e chefes de polícia provincianos que assim se colocam em atitude tão oposta e desprestigiante do Chefe de Polícia da Capital da República?

Também os Tribunais e numerosos Juízes têm concedido "habeas-corpus" a mandados de segurança aos camisas-verdes. Estarão eles andando certo, ou certos se encontram os que violam as liberdades dos integralistas?

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Informo ainda aos historiadores do Futuro que o nosso programa está contido nos Estatutos com que nos registrámos como partido político nacional. Informo que somos o único partido nacional. Informo que temos cooperado com Chefe de Polícia da Capital da República, com os comandantes de regiões militares e delegados de polícia de todo o país, na manutenção da ordem, todas as vezes em que os comunistas ameaçam dar seus golpes. Informo que tenho tido entendimentos pessoais com vários comandantes de regiões militares, ora para combinar ação conjunta na repressão do comunismo, ora para receber agradecimentos por serviços que os integralistas têm prestado à sustentação das autoridades da República. Informo ainda ao historiador que, na Bahia, onde estamos sendo perseguidos, nossa atuação foi eficientíssima, contribuindo para evitar o surto bolchevista em novembro. Informo que o mesmo se deu no Paraná e em Minas Gerais. Informo que posso provar isso no momento que for necessário. Informo que telegrafei ao presidente da República em novembro, oferecendo-lhe cem mil homens para a defesa do Governo. Informo que o presidente da República me agradeceu num belíssimo telegrama em que enaltece a atitude dos camisas-verdes. Informo que os políticos e os jornalistas a soldo da politicagem, declararam não acreditar que eu dispusesse desse número. Informo que, logo em seguida, a Justiça Eleitoral se incumbiu de responder-lhes, pois já apurou, em apenas oito Províncias, perto de cento e cinquenta mil votos integralistas. Informo que o Integralismo é registrado como partido nacional, no Superior Tribunal Eleitoral. Informo que o Integralismo já elegeu deputados federais, estaduais, prefeitos, vereadores e juízes de paz. Informo que existe neste ano da graça de 1936, na Capital da República, uma polícia chefiada pelo capitão Muller, que é a melhor do Brasil. Informo que essa polícia nunca descobriu nada contra o Integralismo, como se viu da carta que publicamos atrás.

Informo, finalmente, aos historiadores que, neste ano da Era Cristã de 1936, eu já acreditava, debaixo das mais tremendas perseguições, na vitória do Integralismo.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 25 de Abril de 1936.

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