Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi
possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder
Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior
Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente,
é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o
trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/
Fantasia indigna e realidade honesta (03/05/1936)
PLÍNIO SALGADO
O
Integralismo é, antes de tudo, a política das realidades humanas. Não
pretendemos fazer um regime para querubins e serafins. Não pretendemos criar um
Estado para uma corte celeste. Queremos, porém, engendrar um sistema que, ao
mesmo tempo, objetive:
1º) -
impedir que a maldade humana, que reconhecemos ser uma das realidades sociais e
particulares, atinja suas consequências funestas para os interesses da
coletividade e dos grupos naturais;
2º) -
criar um clima moral de aperfeiçoamento dos espíritos, mediante uma obra
sistemática de educação e de exemplos, capaz de elevar, gradativamente, os
corações e as inteligências até à compreensão perfeita da virtude e à sua
prática.
Nós,
integralistas, não somos otimistas. Não acreditamos que o problema humano
esteja apenas no homem. Se assim fosse, pleitearíamos, desde o início, uma
revolução de quadros; proporíamos uma substituição de homens por outros homens,
e nada mais. Seria indigno de nós e dos superiores ideais que representamos,
acreditar que os indivíduos perfeitos são aqueles que estão fora dos postos
políticos e de administração pública do Brasil. Sabemos mesmo que, dentro do
próprio movimento integralista, existe uma quantidade apreciável de patrícios
de boa vontade, que vestiram a camisa-verde no empenho sincero de concorrer
para a salvação do país, patrícios esses, porém, que estão cheios de defeitos,
de baldas liberais-democráticas e de pecados e incorreções que eles se esforçam
por apagar de si mesmos. Sabemos que o nosso recrutamento de brasileiros não
pode ter a pretensão de aliciar santos, anjos e arcanjos. Se homens dessa
altura moral existissem no país em número tão grande como os algarismos das
estatísticas integralistas, o nosso movimento não se explicaria como uma
necessidade histórica. O Integralismo é necessário, justamente porque temos de
reeducar o povo brasileiro. Só se reeducam aqueles que estão dispostos a isso.
Estar disposto à isso já é um sinal de saúde moral, de reação espiritual e
primeiro passo no caminho do aperfeiçoamento.
*
* *
Ora,
assim sendo, o Integralismo objetiva, de um modo "imediato", uma
reforma profunda nos métodos de governo, capazes de encarar a realidade política
do país, assim como a realidade social. Capaz de enquadra-las e dirigi-las.
Controlar as atividades econômicas e financeiras, traçar as normas coercitivas
da moralidade pública, da educação, da formação do caráter nacional, impor
ordem e disciplina, tornar imperativo o principio da autoridade, prestigiar esse
princípio de autoridade: pela exigência mais rigorosa do procedimento público e
privado dos homens que a encarnarem.
De um
modo "imediato", pois, objetivamos reformas políticas, pretendemos
adotar novos processos, novos métodos de democracia mais condizentes com as realidades
humanas e as realidades brasileiras. Submeter uma sociedade de loucos, de
agitados, de epiléticos, de místicos alucinados, de sonhadores mórbidos, de
superexcitados sexuais, de dipsomanos, de fingidos, de vaidosos, de mentirosos,
de ambiciosos, de delirantes, a um regime dietético e desintoxicante, eis a
missão do Estado, missão que ele só cumprirá conduzindo-se ele próprio até aos
limites traçados pela natureza humana.
Agora,
de um modo "mediato", pretendemos atingir, ao cabo de longos anos de
ação doutrinária, de ação educacional, de imposição de normas pelo exemplo dos
dirigentes, o máximo de aperfeiçoamentos morais, obra essa que durará várias
gerações, pois estou certo de que não realizarei numa só geração aquilo que foi
destruído sistematicamente em muitas gerações que me precederam.
Quando
os Iiberais-democratas, fanáticos de um regime, pretendem fazer a apologia do
seu sistema, costumam dizer que o sistema é perfeito, mas os homens é que não o
tem cumprido.
Esse
argumento demonstra que o sistema não presta. Por excessivo na confiança que
depositou nos homens, acreditou mais nestes do que em si mesmo. Pretendendo
realizar-se, não ofereceu em si próprio os elementos coercitivos da ação desmoralizadora
dos homens, os fatores impositivos de uma orientação superior, antes, pelo
contrário, deixou-se estar entregando seu próprio destino de coisa perfeita à
discrição dos seres imperfeitos. Em vez de concorrer para o progresso do espírito
humano, concorreu para o seu regresso. Em vez de se tornar lei viva, tornou-se
lei morta.
Essa
é a razão porque, nesta pregação integralista, insiste sempre neste tema: não
ultrapassar a linha do equilíbrio, para não cair na mesma hipocrisia dos liberais.
Que
adianta termos uma norma de conduta admirável impressa em nossos livros,
estatutos, manifestos, cartilhas, artigos e ensaios, ordens do dia e diretivas?
Que adianta, se, na prática, são os próprios pregadores que agem em contradição
com a sua doutrina?
Não
será isso muito mais pernicioso para a mocidade? Não será um crime praticado
perante a Nação?
*
* *
O
senso das realidades humanas é fundamental no Integralismo. Esse senso de
realidade nós o encontramos na fonte de que viemos: o espírito cristão. E eu
tenho visto muitas vezes, dentro do próprio movimento integralista, quanta
imperfeição se acoberta debaixo dos maiores exageros de doutrina moral.
Aos
chefes, aos dirigentes, aos apóstolos, aos. funcionários, aos que detêm uma
parcela de autoridade em nosso movimento, digo francamente que prefiro, mais do
que a palavra, o exemplo. Eu sei da grandeza e da beleza trágica dessa luta que
se trava no íntimo dos espíritos de uma geração que teve a suprema glória de
reagir a tempo contra tudo o que estava podre, contra a herança de miséria que
recebemos das gerações precedentes. Eu sei bem dessa luta. Sei, porém, que não
haveria virtude se não houvesse luta.
Como
Chefe deste movimento, eu não sou dos mais cruéis na exigência, dos mais implacáveis
na condenação dos erros, dos mais violentos castigadores do mal, justamente
porque compreendo a batalha que suscitei no coração de cada um. Tenho reparado,
porém, que os mais cruéis no seu puritanismo são quase sempre os que não
examinam suas próprias fraquezas, e, de tal forma se inebriaram pela
moralização objetiva, que se esqueceram dos deveres subjetivos, cuja base é o sentimento
mais profundamente cristão.
Quero
que os integralistas compreendam bem o sentido que dou a estas reflexões, para
que vivam em paz e se fortifiquem no conhecimento de suas próprias fraquezas,
e- confiem tanto em si mesmos como nos seus companheiros, todos confiando, em
primeiro lugar, n'Aquele que, não nos dando a mão, nos deixará na mais tremenda
das confusões.
*
* *
O
exemplo que a liberal-democracia está oferecendo ao mundo, com a situação atual
da Europa, demonstra como toda a doença da humanidade de hoje é a hipocrisia.
Os liberais-democratas fingem acreditar nas virtudes de uma civilização e de um
regime, que eles mesmos desrespeitam, adotando, na prática, os métodos mais
reprováveis de violências.
Não
adotemos esse exemplo. Que Jamais a crença em nossas virtudes e nas virtudes do
Integralismo seja um fingimento. Por isso o Integralismo é a doutrina da
realidade. Da realidade cuja inspiração deriva da fonte milenária do Evangelho
e, para os povos, como para os indivíduos, para as sociedades e para as
Nacionalidades, será sempre a "fonte de água viva", daquela água a
que o Nazareno alude junto do poço de Jacob, à Samaritana maravilhada. Essa água
viva de eternidade e de força chama-se sinceridade. Sentido de equilíbrio e de
harmonia, sentido de justiça e misericórdia, sentido de humildade e de sacrifício,
sentido de realidade material, intelectual e moral. Numa palavra: sentido de
Humanidade.
Publicado
originalmente n’A OFFENSIVA, em 03
de Maio de 1936.