sexta-feira, 26 de julho de 2024

Fantasia indigna e realidade honesta (03/05/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Fantasia indigna e realidade honesta (03/05/1936)

PLÍNIO SALGADO

O Integralismo é, antes de tudo, a política das realidades humanas. Não pretendemos fazer um regime para querubins e serafins. Não pretendemos criar um Estado para uma corte celeste. Queremos, porém, engendrar um sistema que, ao mesmo tempo, objetive:

1º) - impedir que a maldade humana, que reconhecemos ser uma das realidades sociais e particulares, atinja suas consequências funestas para os interesses da coletividade e dos grupos naturais;

2º) - criar um clima moral de aperfeiçoamento dos espíritos, mediante uma obra sistemática de educação e de exemplos, capaz de elevar, gradativamente, os corações e as inteligências até à compreensão perfeita da virtude e à sua prática.

Nós, integralistas, não somos otimistas. Não acreditamos que o problema humano esteja apenas no homem. Se assim fosse, pleitearíamos, desde o início, uma revolução de quadros; proporíamos uma substituição de homens por outros homens, e nada mais. Seria indigno de nós e dos superiores ideais que representamos, acreditar que os indivíduos perfeitos são aqueles que estão fora dos postos políticos e de administração pública do Brasil. Sabemos mesmo que, dentro do próprio movimento integralista, existe uma quantidade apreciável de patrícios de boa vontade, que vestiram a camisa-verde no empenho sincero de concorrer para a salvação do país, patrícios esses, porém, que estão cheios de defeitos, de baldas liberais-democráticas e de pecados e incorreções que eles se esforçam por apagar de si mesmos. Sabemos que o nosso recrutamento de brasileiros não pode ter a pretensão de aliciar santos, anjos e arcanjos. Se homens dessa altura moral existissem no país em número tão grande como os algarismos das estatísticas integralistas, o nosso movimento não se explicaria como uma necessidade histórica. O Integralismo é necessário, justamente porque temos de reeducar o povo brasileiro. Só se reeducam aqueles que estão dispostos a isso. Estar disposto à isso já é um sinal de saúde moral, de reação espiritual e primeiro passo no caminho do aperfeiçoamento.

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Ora, assim sendo, o Integralismo objetiva, de um modo "imediato", uma reforma profunda nos métodos de governo, capazes de encarar a realidade política do país, assim como a realidade social. Capaz de enquadra-las e dirigi-las. Controlar as atividades econômicas e financeiras, traçar as normas coercitivas da moralidade pública, da educação, da formação do caráter nacional, impor ordem e disciplina, tornar imperativo o principio da autoridade, prestigiar esse princípio de autoridade: pela exigência mais rigorosa do procedimento público e privado dos homens que a encarnarem.

De um modo "imediato", pois, objetivamos reformas políticas, pretendemos adotar novos processos, novos métodos de democracia mais condizentes com as realidades humanas e as realidades brasileiras. Submeter uma sociedade de loucos, de agitados, de epiléticos, de místicos alucinados, de sonhadores mórbidos, de superexcitados sexuais, de dipsomanos, de fingidos, de vaidosos, de mentirosos, de ambiciosos, de delirantes, a um regime dietético e desintoxicante, eis a missão do Estado, missão que ele só cumprirá conduzindo-se ele próprio até aos limites traçados pela natureza humana.

Agora, de um modo "mediato", pretendemos atingir, ao cabo de longos anos de ação doutrinária, de ação educacional, de imposição de normas pelo exemplo dos dirigentes, o máximo de aperfeiçoamentos morais, obra essa que durará várias gerações, pois estou certo de que não realizarei numa só geração aquilo que foi destruído sistematicamente em muitas gerações que me precederam.

Quando os Iiberais-democratas, fanáticos de um regime, pretendem fazer a apologia do seu sistema, costumam dizer que o sistema é perfeito, mas os homens é que não o tem cumprido.

Esse argumento demonstra que o sistema não presta. Por excessivo na confiança que depositou nos homens, acreditou mais nestes do que em si mesmo. Pretendendo realizar-se, não ofereceu em si próprio os elementos coercitivos da ação desmoralizadora dos homens, os fatores impositivos de uma orientação superior, antes, pelo contrário, deixou-se estar entregando seu próprio destino de coisa perfeita à discrição dos seres imperfeitos. Em vez de concorrer para o progresso do espírito humano, concorreu para o seu regresso. Em vez de se tornar lei viva, tornou-se lei morta.

Essa é a razão porque, nesta pregação integralista, insiste sempre neste tema: não ultrapassar a linha do equilíbrio, para não cair na mesma hipocrisia dos liberais.

Que adianta termos uma norma de conduta admirável impressa em nossos livros, estatutos, manifestos, cartilhas, artigos e ensaios, ordens do dia e diretivas? Que adianta, se, na prática, são os próprios pregadores que agem em contradição com a sua doutrina?

Não será isso muito mais pernicioso para a mocidade? Não será um crime praticado perante a Nação?

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O senso das realidades humanas é fundamental no Integralismo. Esse senso de realidade nós o encontramos na fonte de que viemos: o espírito cristão. E eu tenho visto muitas vezes, dentro do próprio movimento integralista, quanta imperfeição se acoberta debaixo dos maiores exageros de doutrina moral.

Aos chefes, aos dirigentes, aos apóstolos, aos. funcionários, aos que detêm uma parcela de autoridade em nosso movimento, digo francamente que prefiro, mais do que a palavra, o exemplo. Eu sei da grandeza e da beleza trágica dessa luta que se trava no íntimo dos espíritos de uma geração que teve a suprema glória de reagir a tempo contra tudo o que estava podre, contra a herança de miséria que recebemos das gerações precedentes. Eu sei bem dessa luta. Sei, porém, que não haveria virtude se não houvesse luta.

Como Chefe deste movimento, eu não sou dos mais cruéis na exigência, dos mais implacáveis na condenação dos erros, dos mais violentos castigadores do mal, justamente porque compreendo a batalha que suscitei no coração de cada um. Tenho reparado, porém, que os mais cruéis no seu puritanismo são quase sempre os que não examinam suas próprias fraquezas, e, de tal forma se inebriaram pela moralização objetiva, que se esqueceram dos deveres subjetivos, cuja base é o sentimento mais profundamente cristão.

Quero que os integralistas compreendam bem o sentido que dou a estas reflexões, para que vivam em paz e se fortifiquem no conhecimento de suas próprias fraquezas, e- confiem tanto em si mesmos como nos seus companheiros, todos confiando, em primeiro lugar, n'Aquele que, não nos dando a mão, nos deixará na mais tremenda das confusões.

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O exemplo que a liberal-democracia está oferecendo ao mundo, com a situação atual da Europa, demonstra como toda a doença da humanidade de hoje é a hipocrisia. Os liberais-democratas fingem acreditar nas virtudes de uma civilização e de um regime, que eles mesmos desrespeitam, adotando, na prática, os métodos mais reprováveis de violências.

Não adotemos esse exemplo. Que Jamais a crença em nossas virtudes e nas virtudes do Integralismo seja um fingimento. Por isso o Integralismo é a doutrina da realidade. Da realidade cuja inspiração deriva da fonte milenária do Evangelho e, para os povos, como para os indivíduos, para as sociedades e para as Nacionalidades, será sempre a "fonte de água viva", daquela água a que o Nazareno alude junto do poço de Jacob, à Samaritana maravilhada. Essa água viva de eternidade e de força chama-se sinceridade. Sentido de equilíbrio e de harmonia, sentido de justiça e misericórdia, sentido de humildade e de sacrifício, sentido de realidade material, intelectual e moral. Numa palavra: sentido de Humanidade.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 03 de Maio de 1936.

quinta-feira, 4 de julho de 2024

COM A PALAVRA O SENADOR COSTA REGO (17/10/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

COM A PALAVRA O SENADOR COSTA REGO (17/10/1936)

PLÍNIO SALGADO

Na hora em que se realiza, na Capital da República, pela primeira vez na História do Brasil, um conclave de deputados estaduais, prefeitos e vereadores, sem preocupações estaduais e com um só pensamento nacional de unidade da Pátria;

na hora em que se realiza, com o mesmo pensamento e o mesmo sentimento, o 1º Congresso Nacional Feminino da A.I.B., que realiza o milagre de reunir no Rio senhoras e moças de todas as Províncias;

na hora em que, culminando essas imponentes manifestações do Brasil-Uno e Indivisível, reúnem-se, também, em Guanabara, os Chefes Provinciais do Integralismo em todo o país, para tomarem parte, com o Supremo Conselho, o Secretariado Nacional e a Câmara dos Quarenta, nas assembleias das Côrtes do Sigma:

- Eu não preciso, para significar a importância desses fatos, escrever o meu artigo quotidiano.

Escreveu-o, por mim, publicando-o no "Correio da Manha", de ontem, o senador Costa Rego, diretor daquele importante matutino.

Dou, portanto, a palavra a Costa Rego:

"OS FATORES DA UNIDADE"

"A língua é um fator inconcusso da unidade brasileira. Não é certamente o único, porque, isolada, ela não faz a unidade; mas a unidade que se funda, entre outros elementos, na língua é sempre forte.

A este respeito, o Brasil apresenta um exemplo impressionante, quando o comparamos com as outras nações: não há entre nós nenhum dialeto, ao passo que os há mesmo em Portugal.

Mario Marroquim estudou o fenômeno e atribuiu-o à "mobilidade brasileira", quer dizer ao hábito de deslocar-se o homem de um para outro ponto do país. Esse hábito foi-lhe, de resto, imposto pela própria natureza, tão vasta e surpreendente que o seduzia sempre à aventura. Resultou, por fim, da divisão administrativa da terra, que, tendo criado núcleos diversos, disseminou uma população de costumes idênticos.

Criaram-se - era natural - verdadeiras zonas linguísticas, com peculiaridades que não chegaram, entretanto, a afetar a estrutura do idioma e lentamente se diluem na evolução dos modos.

Diluir as peculiaridades das zonas linguísticas é, assim, um trabalho político a sustentar. Nesse trabalho colabora grandemente o Exército, que, sendo, pela unidade militar, um instrumento da feição mais característica da unidade nacional, estabelece o contato continuo das inteligências na permanente deslocação das guarnições, formadas por homens de todas as zonas, fundidos no mesmo sentimento superior do serviço da Pátria.

O problema da unidade brasileira – não nos iludamos - há de ser sempre, através dos anos, o grande problema político do país, pois não basta possuir a unidade: é necessário preserva-la. E ela fica tanto mais exposta quanto é certo que, promanando até hoje de forças morais, pode sofrer o ataque das forças econômicas mal encaminhadas, propendendo para os regionalismos da produção e do comércio. É o que tenho procurado combater na criação absurda de uma frota mercante regional, como a projetada, do Rio Grande do Sul, em detrimento tácito do Lloyd Brasileiro, esse outro grande instrumento de unidade, que um antigo ministro da Fazenda, por coincidência filho do Sul, já quis levar à falência.

A política é no Brasil um desencanto onde não raro se estiolam as boas vontades. Poderíamos modifica-las no sentido de uma permanente inquietação em torno do Brasil não apenas unido, mas uno. A simples união não é a unidade.

Todo brasileiro tem, a meu ver, um esforço indiscutível a cumprir, qualquer que seja sua religião, seu partido ou sua zona de nascimento: é o esforço de afastar os fatores de desagregação.

Nem sempre os grupos políticos, em sua ação estritamente partidária, avivada ou empecida, conforme as conveniências, pelas rivalidades funestas das pessoas e dos interesses, compreendem o problema da unidade. Para eles estando feita a unidade é intangível.

Mas os povos crescem e marcham. No crescimento e na marcha eles procuram um destino que preciso fixar, sob pena de crescerem e marcharem sem o sentido nacional, repetindo velhos dramas da História.

Há seis anos, surgiu no Brasil um movimento a que muitos, em sua insciência do que exprimem e podem as exaltações coletivas, não deram o devido apreço. Quero referir-me ao Integralismo. O Integralismo realizou o milagre, ainda não visto na República, de uma coordenação rigorosamente nacional.

Ao mesmo tempo em que este acontecimento se verificava, o Código Eleitoral outorgado pelos poderes instituídos em 1930 prescrevia e estimulava a formação dos partidos do mesmo gênero, isto é, nacionais. Cedo, porém, os vícios da Política pura e simples frustraram esse ideal, que haveria servido à causa da unidade. E o Integralismo - só ele, isolado - constitui hoje o elemento essencialmente político em luta pelo país uno, enquanto nós outros perdemos um tempo sem fim para tornar o país apenas unido. Mesmo os que não adotam a doutrina deveriam impressionar-se com o facto.

Há, por conseguinte, uma obra de pensamento a concluir, e ela depende - reconheçamos – da coragem com que enfrentarmos a realidade, em lugar de nos afundarmos nas praxes obsoletas do regionalismo, a que já devemos tantas de nossas penas e tantos de nossos erros."

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 17 de Outubro de 1936.

terça-feira, 2 de julho de 2024

PACIFICAÇÃO (02/05/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

PACIFICAÇÃO (02/05/1936)

Plínio Salgado



Também na Europa se desejou a pacificação.

O sr. Samael Hoare pronunciou-se. O sr. Sarraut soltou algumas palavras. Ouviram-se alguns tiros. Eram as tropas fascistas que invadiam a Abissínia.

O sr. Antonio Eden, o sr. John Simon, mexeram-se. Ouviram-se alguns tiros mais longínquos. Era na Ásia. Os japoneses estavam em Mandchukuo.

O sr. Brun, o sr. Flandin, o sr. Lloyd George deram entrevistas à imprensa. Logo escutaram alguns rumores de tropas marchando. Era a Alemanha que vinha ocupar as fronteiras francesas.

Então, os srs. Tardieu, Herriot, Chamberlain, Brun, Flandin, Simon, Eden, Hoare, Sarraut, Stanley, Baldwin, Erc Phips, Daladier, agitaram-se clamando pela pacificação. Mas, logo em seguida, verificaram que a thoria era uma coisa muito diferente da prática, que o idealismo não correspondia à realidade, que os métodos liberais-democráticos jamais poderiam pacificar o mundo.

Nem por isso desanimaram. Começaram a viajar abaixo e acima. De Londres a Paris, de Paris a Londres. De Genebra para toda a parte. Tudo inutil e desmoralizador.

Foi assim que, também na Europa, tentaram pacificação. A pacificação era impossível como impossível será em toda a parte onde houver interesses de grupos contra os interesses gerais.

Ainda agora, na Câmara Inglesa, registra-se uma das páginas mais deliciosas do velho humorismo britânico.

Sim. Uma coisa não foi destruída na Europa: aquele imperturbável "humor", que vinha de Dickens, que esteve sempre na atitude fleumática dos velhos Lords ou dos mais humildes frequentadores dos "bars" junto ao Tamisa, onde se toma um gole de "gin", ou de "whisky", entre duas palavras graves de legítima ironia.

Já tardava a graça exótica e singularíssima da velha Albion. Já o mundo esperava da Pátria de Bernard Shaw e de Chesterton, uma atitude digna da tradição humorística da Grã-Bretanha.

E, afinal, apareceu na Câmara Inglesa, a atitude que nos faltava. Um deputado apresentou, com ar grave, como convêm a um genuíno humorista, e fazendo mesmo gestos trágicos, uma série de atos que ele considera muito expressivos da situação europeia.

Esses atos são os seguintes:

1. Violação do Tratado de Versalhes - Remilitarização da Alemanha.

2. Idem e violação do Tratado de Locarno - Entrada das tropas alemãs na Renânia.

3. Violação do Tratado de St. Germain - Remilitarização da Áustria.

4. Violação do Tratado de Lausanne. - Refortificação dos Dardanellos.

5. Fracasso da Conferência Naval de Londres - Não estabelecimento de limites para as construções navais.

6. Violação do "Covenant" da Liga das Nações - Guerra ítalo-etiópica.

7. Violação do convenio contra o uso de gazes tóxicos - Guerra ítalo-etiópica.

8. Tensão na fronteira da Mongólia e Mandchukuo - Possibilidade de revisão dos mandatos da Liga das Nações.

9. Ingerência da União Soviética na Europa Ocidental - Pacto franco-soviético.

10. Aplicação das sanções - Tensão anglo-italiana.

11. Armamentismo excessivo – Enormes orçamentos militares das potências.

Como se vê, é maravilha! E o mais extraordinário é que a Câmara Inglesa, correspondendo ao humorismo do deputado, não riu. Pelo contrário, agitou-se. Ilustres parlamentares assumiram mesmo atitudes violentas, enérgicas, alarmadíssimas.

Tudo para fazer rir o mundo. E toda a Europa riu na tarde de anteontem. Uma imensa risada rastilhou pela margem do Tamisa, atingiu Callais, estrondou na França. A hilaridade atingiu Genebra, Berlim, Roma, os Balcans, e o turco que, às margens do Bósforo fumava tranquilamente o seu "narghile", desatou a rir, despertando os gregos vizinhos e as colônias mediterrâneas. A fria Escandinávia, a florida Holanda, a Beélgica, a Dinamarca, tudo riu. Foi uma tarde de bom humor prodigalizada pela Câmara Inglesa, que desempenhou o papel que lhe competia nesta hora do mundo.

Foi assim que a liberal-democracia começou a morrer, sem tristeza no planeta. Foi assim que ninguém mais acreditou em pacificações, nem no mundo internacional, nem no mundo das políticas nacionais, nem mesmo nos municípios, onde os coronéis disputam o prestígio local.

Pacificação só se faz com uma coisa: autoridade.

Autoridade só se faz com uma coisa: renúncia a interesses imediatos, visão superior de interesses gerais.

Enquanto houver partidos, não há pacificação Será, pois, inútil que a Europa tente pacificar-se.

E, por falar em pacificação da Europa, haverá quem acredite nessa palavra, por exemplo, em Santa Luzia do Olho d'Agua, ou na capital de algum país da América do Sul?

Publicado orginalmente n’A OFFENSIVA, em 02 de Maio de 1936.

segunda-feira, 1 de julho de 2024

EM FACE DO FUTURO (18/10/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

EM FACE DO FUTURO (18/10/1936)

PLÍNIO SALGADO

Estou regressando do Teatro João Caetano. Acabo de receber o juramento das Cortes do Sigma. Foi um episódio imponente e impressionante. Diante de milhares de integralistas que apinhavam plateia, as frisas, os camarotes, as galerias, numa vibração formidável, foi feita a chamada dos membros do Supremo Conselho, dos dez Secretários Nacionais, dos membros da Câmara dos Quarenta, dos vinte e três Chefes Provinciais e dos dignatários que completam a máxima autoridade colectiva do Integralismo.

Em seguida, e após a entrega dos diplomas aos membros da Câmara dos Quarenta, procedeu-se à cerimônia tocante do juramento.

As Cortes do Sigma juraram perante o Chefe Nacional manter para todo o sempre os princípios fundamentais que alicerçam o edifício do Estado Integral. Juraram não permitir que jamais se apague o incêndio verde da face do território brasileiro. Juraram transmitir aos seus descendentes a doutrina do Sigma, tão pura como a receberam das mãos do Chefe Nacional.

Recebendo esse juramento, senti a perpetuidade desta Força desencadeada pelo Bem do Brasil. Nada mais poderá conte-la. Nada mais deterá o passo firme desta e das futuras gerações de camisas-verdes.

Depois de ouvir os discursos dos oradores da magna sessão, levantei-me, à meia noite, e encerrei as cerimônias dirigindo-me a todos os camisas-verdes da imensa Pátria.

É essa palavra que vos transmito agora, a todos vós, integralistas de todas as Províncias e de todas as Cidades Brasileiras.

Em 1934 - declarei à grande massa verde que se comprimia no Teatro João Caetano -  eu cumpri o meu dever para com o Presente, na cidade de Vitória, capital do Espírito Santo, quando encerrei o primeiro Congresso Nacional Integralista. Naquela ocasião, depois de um árduo apostolado, tendo já percorrido as capitais e os sertões, achei que devia estruturar o Movimento, organizar os seus serviços, entregar aos homens da minha geração o trabalho que tinha feito, e pedir aos meus irmãos de ideal que escolhessem um Chefe. Eles me escolheram e não foi culpa minha, porque eu não queria. Renunciei três vezes e três vezes eles me impuseram o sofrimento. Tive de aceita-lo por disciplina. Eu preferiria ser um obscuro mas fecundo soldado da grande Causa. Tive de continuar na direção da campanha.

Neste posto, lutei estes dois anos últimos. O Integralismo é hoje uma força nacional, uma expressão de pensamento novo que empolgou as almas. E eu meditava sobre isso, pensando que me tocava cumprir um dever para com o Futuro.

Esse dever consistia em garantir a perpetuidade desta força criadora da Nacionalidade e alicerçadora da futura Civilização que sairá da América para iluminar o Mundo.

Como garantir essa perpetuidade?

Resolvi organizar a suprema autoridade coletiva do Integralismo. Essa autoridade coletiva são as Cortes do Sigma.

Constituem as Cortes do Sigma dez membros do Supremo Conselho Integralista; dez Secretarias Nacionais; quarenta membros da Câmara dos Quarenta; 23 Chefes Provinciais e 400 dignitários de todas as regiões do país, no todo 483 pessoas, cujo dever fundamental é manter por todo o sempre a intangibilidade da nossa doutrina e a permanência do nosso Movimento no Brasil. Cada novo membro de qualquer dessas corporações terá de prestar o mesmo juramento que agora prestam coletivamente as Cortes do Sigma. Este Movimento não acabará mais. Não haverá mais perseguições, opressões, martírios que o detenham. É um estado de espírito. É uma constante na História do Brasil. Todos os casos estão previstos. Morto, exilado, preso, doente, ausente, o Chefe ou qualquer membro do Supremo Conselho, o Movimento não parará um Instante sequer. Desde ontem, o Integralismo não depende mais de homens, porque se tornou o irremovível fenômeno social.

Afirmei à massa dos camisas-verdes que me escutavam que, apesar de tudo, eu temia: não os adversários, porque estes são geradores providenciais de novas energias, mas a nossa própria condição humana.

O Integralismo proclama alguns princípios imutáveis: o princípio de Deus, do qual decorre todo um conceito de harmonia universal. O princípio dessa própria harmonia de que deriva toda uma concepção de ritmo social. O princípio da moral cristã que inspira a Autoridade na manutenção da justiça equilibradora dos movimentos humanos da sociedade. O princípio da Autoridade, da qual decorre a ideia do Estado Ético. O princípio do Estado Ético que se inspira no respeito da personalidade humana. O princípio da personalidade humana de que se origina o conceito do livre arbítrio, da liberdade. O princípio da liberdade, de que deriva a concepção da Família Autônoma. O princípio da Família intangível, de que decorre os direitos de vida expressos nos interesses dos grupos econômicos e o conceito da propriedade cristã, como base material da família. O princípio dos interesses econômicos e da propriedade de que deriva a autonomia do município. O princípio do município que fortalece a Unidade da Pátria. O princípio da Unidade da Pátria, que se exprime na máxima expressão de soberania e de força do Estado. Finalmente, o princípio da política moral, da política cristã, que transcende os princípios limites da Nação, para abranger todos os aglomerados humanos.

Estes princípios são imutáveis, mas a revolução do Estado é permanente ao tocante a suas expressões formais. Esse princípio da revolução permanente é inerente ao livre arbítrio do Espírito, da Personalidade Humana, que se reflete no livro arbítrio do Estado.

A transmissão, pois, dessas ideias às gerações futuras compete aos que se tornaram responsáveis pela intangibilidade da doutrina integralista,

As Cortes do Sigma assumiram essa responsabilidade perante mim. E eu pude ver melhor o Futuro da minha Pátria. Pude antecipar a História. Pude ter a certeza de que o Brasil que nos espera nos berços continuará nas realizações do Porvir este pensamento filosófico e politico.

Por isso a sessão de ontem no Teatro João Caetano teve uma imponência e uma significação extraordinárias.

O avançado da hora não me permite vos escrever mais - Camisas-verdes da Pátria -  depois de um dia trabalhoso, em que presidi uma sessão diurna em que ouvi, um por um, os Chefes Provinciais, vendo desfilar o Brasil diante dos meus olhos, e de uma noite emocional, de tamanha significação para vós e para mim, para o Presente e para o Futuro.

Anuncio-vos, apenas, nestas linhas improvisadas já madrugada, na redação do vosso jornal, "que o Integralismo imortalizou-se ontem, imunizou-se contra todos os seus inimigos.

Ergui meu pensamento a Deus e, diante da magnitude e esplendor de tudo quanto temos realizado, eu pedi ao Senhor que nos desse força e nos iluminasse com a sua Eterna Luz, pois somos homens e, nos momentos em que nos sentimos mais vitoriosos, devemos mais reconhecer a nossa humildade e tudo esperar d'Aquele que tudo pode e pode mais do que os Governadores da Terra, porque é o Comandante das Estrêlas no infinito do Tempo e dos Espaços.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 18 de Outubro de 1936