sexta-feira, 20 de setembro de 2024
domingo, 1 de setembro de 2024
CARTA DE PLÍNIO SALGADO A RAYMUNDO PADILHA (02/04/1973)
Carta de Plínio Salgado a Raymundo Padilha |
Esclarecimento: A publicação da Carta abaixo só se tornou
possível graças à generosa colaboração do Sr. Bruno Padilha, que tendo
encontrado a missiva na Memorabilia Familiar e percebendo sua importância
histórica, a liberou para divulgação. A Carta em questão acompanhou o exemplar
do magnífico discurso pronunciado por Plínio Salgado, na Câmara Federal, quando
da comemoração dos 40 Anos do Manifesto de Outubro de 1932.
CARTA DE PLÍNIO SALGADO A RAYMUNDO PADILHA
Brasília, 2 de abril
de 1973
Padilha,
não se poderia resumir em 40 minutos a
história e a significação do maior movimento de ideias e de ação prática
realizado no Brasil desde a Independência até nossos dias. Sem precedentes nem
outros posteriores que se lhe comparem, dele muito se tem escrito, ou pelas raposas
malévolas, ou pelos jumentos ignorantes, ou pelos batráquios que se fartam de
coaxar diante do que não entendem. Falta-nos um trabalho sério que seria
dividido nas seguintes partes: I) - O pensamento brasileiro a partir do século XVIII até o
primeiro quartel do século XX; II)- Fundamentos filosóficos do Integralismo;
III) - Sociologia e política integralistas; IV) História do movimento até o
golpe de Estado de 1937 e de 1937 a 1945; V) Influência das ideias integralistas
no país e no exterior. Isto, em linhas gerais, que devem incluir
pormenores relativos a acontecimentos até hoje deturpados.
Talvez
um dia esse trabalho apareça. Por enquanto, temos de nos conformar com resumos,
como esse que lhe envio, com lacunas, saltos, omissões, pois não se poderia
fazer mais num pequeno discurso limitado por exigências regimentais.
Além
disso, o folheto está com muitos erros de revisão, como sejam trocas de letras,
desconcordâncias e até o título do livro do Oliveira Viana que saiu como
"O Caso do Império"...
Em
todo o caso, foi comemorado o "Quadragésimo ano" da nossa encíclica
mais vivida do que falada mas que também trazia ao povo brasileiro "cousas
novas" ("Rerum novarum").
Abraço
velho e novo da velha e sempre renovada amizade do seu compadre.
PLÍNIO
SALGADO
quinta-feira, 29 de agosto de 2024
A Pátria, acima de tudo! (09/05/1936)
Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi
possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder
Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior
Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente,
é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o
trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/
A Pátria, acima de tudo! (09/05/1936)
PLÍNIO SALGADO
Três hipóteses se apresentam ao nosso
espírito em face da situação nacional:
1ª) - A situação do país é gravíssima;
2ª) - A situação é apenas grave;
3ª) - A situação não é grave.
Na primeira hipótese, devemos examinar
em que consiste uma situação gravíssima. Evidentemente que ela consiste em circunstancias
que se refletem nas próprias relações internacionais do país; é o caso da
intervenção em nossa vida interna de um inimigo estrangeiro, ou a ameaça premente
da invasão do nosso território. Nesta emergência, o Governo precisa
encontrar-se armado de meios, de modo a defender com a máxima eficiência e
rapidez a soberania nacional e a honra da Pátria. Temos diante de nós o caso típico
do "estado de guerra". Defendido pela legislação em vigor esse
"estado de guerra" suspende todas as garantias constitucionais,
relativas à liberdade de pensamento, de reunião, de propaganda, de atuação política,
ficando essa liberdade condicionada ao Juízo do próprio Poder Executivo, que
decide, a favor ou contra, através das autoridades que hierarquicamente o
encarnam.
Esse eclipse necessário das liberdades
públicas, essa restrição da amplitude do exercício dos direitos democráticos,
para surtir seus completos efeitos terá como consequência lógica a ineficácia
de quaisquer institutos assecuratórios dos referidos direitos, dando-se por
suspensas as concessões de mandados ou outros remédios jurídicos por parte de juízos
ou tribunais do país; porquanto seria insuficiente a abolição das liberdades
pelo Executivo, quando o Judiciário lhe anulasse a possibilidade de ação.
Que resulta disso? Resulta que "estado
de guerra" firma o princípio da prioridade absoluta do Poder Executivo
durante período de sua vigência. Firmado esse princípio, que decorre dele?
Decorre que, tanto em teoria, como na prática, os Poderes Judiciário e Legislativo
cessam de funcionar, este, de um modo completo, e aquele em tudo o que disser
respeito a quaisquer recursos ou ações referentes aos reclamos das liberdades
públicas asseguradas pela Constituição e pela Legislação em vigor nas épocas normais.
Agora, da suspensão temporária dos
Poderes Legislativo e Judiciário, quais serão as consequências? Essas consequências
são todas aquelas que decorram do princípio firmado de que o Governo Federal
não deve encontrar óbices de espécie alguma nas atividades repressoras da anarquia
ou da guerra que se levantam contra o Estado Nacional. Não existindo os Poderes
Legislativo e Judiciário, temos 1º - não há imunidade parlamentares nem
garantias especiais à magistratura, 2º) - a autonomia dos Estados sofre as restrições
decorrentes da declaração da prioridade do Executivo Federal sobre os dois
outros poderes da União, porquanto, se em matéria de providencias de ordem
policial ou militar, aqueles poderes podem criar embaraços, muito maiores embaraços
poderiam criar outros tantos Executivos agindo por conta própria e muitas vezes
em divergência com os supremos interesses nacionais.
Aberto um parêntesis na normalidade da
vida constitucional, deixando de, virtualmente, existir, para interpretarmos os
estritos termos legais referentes ao "estado de guerra", o
Legislativo, através do qual se manifesta a opinião pública, e o Judiciário,
que garante a execução da Lei Eleitoral, a interpretação exata da Lei de
Segurança Nacional, a aplicação concreta dos textos da Constituição,
logicamente serão nulas todas as eleições realizadas na vigência do
"estado de guerra".
O direito do voto, principalmente depois
que entrou em vigor a nova Lei Eleitoral que objetiva, de modo claro, po(...) expresso,
a representação partidária, só se torna efetivo mediante o exercício de vários
direitos que lhe são forçosamente inerentes: o direito de reunião, o direito de
propaganda, o direito de locomoção.
Ora, esses direitos não existem no
"estado de guerra". A Lei Eleitoral, por exemplo, proíbe aos partidos
a propaganda quarenta e oito horas antes da eleição; é exatamente dentro desse período
que o governo suspende o "estado de guerra" para a realização do comício
eleitoral.
Essas são as consequências do “estado
guerra”, tão necessário na hora presente, consoante o que se infere das
informações do Poder Executivo.
Aceita, pois, a hipótese de que a situação
do país é gravíssima, só nos portaremos com patriotismo e dignidade, aprovando
e até aplaudindo "estado de guerra". E uma vez que aprovemos e aplaudamos,
teremos de concordar, e jamais nos rebelarmos contra as consequências de remédio
heroico, de uma providência cauterizante, a que foi levado o Governo, em um
momento doloroso da vida nacional.
Regulamentar o "estado de
guerra" será reconhecer que a situação não é gravíssima, porém apenas
grave. Ora, se assim é, basta aplicar ao país o "estado de sítio", de
menores efeitos, ou até mesmo, socorrermo-nos tão só da legislação em vigor: a Lei
de Segurança Nacional, os Códigos Penais.
Mas eu pergunto: quem saberá melhor do
que o Executivo das necessidades imediatas do Brasil, no tocante à Segurança
Nacional?
Acaso o Legislativo?
Mas não foi Legislativo que, nas vésperas
de rebentar a revolução comunista de novembro, votou, por 80 votos contra 72,
uma indicação ao presidente da República, para que, ou "fechasse a Acção
Integralista Brasileira", ou "reabrisse a Aliança Nacional
Libertadora"?
As Chefaturas de Polícia de todo o país
e os Comandos das Regiões Militares verificaram, dias depois dessa atitude da Câmara,
que a Aliança Nacional Libertadora estava envolvida como personagem de primeiro
plano, na revolução de novembro. Essas mesmas autoridades verificaram os
relevantes serviços prestados, na defesa da Ordem e do Governo da República,
pela Acção Integralista Brasileira, tendo disso dado testemunhos públicos o
chefe de Polícia da Capital Federal e o próprio presidente da República, em
expressivo telegrama ao Chefe do Integralismo,
Como pode a Nação confiar no Poder
Legislativo, quando ele, na melhor das hipóteses, para não o acusarmos, nem de
leve, de conivência com os comunistas, se mostrou tão mal informado, nas vésperas
da intentona de novembro?
Por uma coincidência, naqueles dias,
os jornais publicavam uma correspondência de Moscou, dando conta dos trabalhos
do Congresso da Internacional Comunista, e reproduzindo considerações de
Dimitroff, em discurso através do qual afirmava que os comunistas brasileiros
iriam manobrai o nosso Legislativo, no intuito do combater o Integralismo, como
ato preparatório da insurreição bolchevista.
Não quero acusar os nossos patrícios,
com assento na Câmara Federal, do conhecimento dessa pérfida manobra da Rússia,
império com o qual devemos nos considerar em guerra, pela petulância e
menosprezo a nossa dignidade de Povo Livre, revelada na ingerencia em assuntos
de nossa política interna. Não: eu ainda creio no patriotismo da Câmara e do
Senado Federais. Não posso conceber que esses homens, tão atacados e às vezes
injustamente caluniados em razão de males que não deles, mas do sistema político
decorrem, não posso conceber que, pais família, cristãos e brasileiros, que o são
e muitos até paradigmas de tradições legítimas, dessem por tão barato o
interesse nacional, subordinando-o a caprichos fúteis.
Mas o em que me firmo é no seu desconhecimento
habitual por parte do Legislativo, das tramas ardilosas e hábeis maquiavelismos,
que só o Executivo, pela sua ação constante e vigilância incansável, pode
conhecer nos seus mínimos pormenores, muitos dos quais, no interesse mesmo da
Nação. No caso de serem levados à arena dos debates parlamentares,
prejudicariam a defesa nacional.
Ainda está quente e fumegante o sangue
dos militares que, na defesa dos lares brasileiros, entre os quais os dos próprios
congressistas, tombaram nos dias trágicos de novembro. Cumpre pensemos nisso,
antes que nos aferremos prerrogativas que, no momento, devemos renunciar em
holocausto a nossa Pátria e ao sacrifício de nossos irmãos militares que ainda
estão arriscados a morrer por nós, pelas nossas famílias.
Não queremos nós, os integralistas, nenhum
mal aos senhores deputados senadores, antes, pelo contrario, desejamos a suas famílias,
a sua religião, a sua liberdade, tanto quanto de bem aspiramos para todos os
camisas-verdes; entendemos, no entanto, que a hora é para que tenhamos, todos
nós, muito juízo, muito bom senso, sufocando em nós todas as vaidades.
Que o Poder Executivo, e ele, que
responde diretamente pela honra nacional, decida de tudo, neste momento.
Se, porém, a situação não é grave, o
que constitui a terceira das hipóteses acima aventadas, neste caso, nem
"estado de guerra", nem "estado de sitio" se justificariam.
Não podemos, em todo o caso, brincar
num instante como este. E brincadeira será sempre toda qualquer manobra que
elementos extremistas disfarçados e habilíssimos executarem no Legislativo,
abusando da boa fé de honrados pais de família, que ali tem assento, para que
votem de acordo com inconfessáveis desígnios de inimigos que a eles próprios,
deputados e senadores, pretendem trucidar.
Que jamais nas horas sérias, em quaisquer
episódios da vida parlamentar, mesmo o das eleições internas de comissões,
quando todo Brasil aflito quer confiar nos homens de responsabilidade, tenhamos
o espetáculo de um Senado de Calígula, resolvendo, sobre as desgraças de Roma,
qual melhor molho de peixe.
Nós, integralistas, ainda acreditamos
que não nos faltará, a nós, brasileiros, de todos os partidos e de todas as
condições, essa coisa tão indispensável e que, por mais que pareça vulgar, é
rara e preciosa: juízo.
Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 09 de Maio de 1936.
sábado, 17 de agosto de 2024
AS CORTES DO SIGMA (14/10/1936)
Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi
possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder
Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior
Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente,
é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o
trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/
AS CORTES DO SIGMA (14/10/1936)
PLÍNIO SALGADO
Estão chegando os Chefes Provinciais
de todo o Brasil, para tomarem parte nas grandes assembleias das Cortes do
Sigma. Uns chegam em navios, outros viajam de avião, outros por estrada de
ferro.
As Cortes do Sigma exprimem a suprema
autoridade coletiva do Movimento Integralista. Constituem-se do Supremo
Conselho, do Secretariado Nacional, da Câmara dos Quarenta e dos Chefes Provinciais.
Tomam também parte nas assembleias Integralistas de projeção no partido,
escolhidos para esse fim pelo Chefe Nacional, ainda quando não ocupem cargos
administrativos ou políticos.
Ao mesmo tempo que se realiza essa
imponente reunião dos grandes dignitários da confiança da Chefia Nacional,
assistiremos a dois Congressos na Capital da República: o 1º Congresso Nacional
Feminino da A. I. B. e o Conclave Parlamentar das Províncias Meridionais.
Ao 1o Congresso Nacional Feminino
comparecem mais de um milhar de blusas-verdes, que já estão chegando de todos
os pontos do país Pela primeira vez a mulher integralista vai realizar uma
imponente assembleia, traçando as vastas diretrizes de ação prática. Serão
lidas teses, serão assentadas providências, serão esclarecidas quaisquer dúvidas
regulamentares e protocolares, será finalmente estabelecido um plano a ser
executado no campo da arregimentação feminina, da infância e da juventude.
Firmar-se-ão as normas de combate ao materialismo, ao comodismo, à displicência,
ao ceticismo, e as da propaganda mais intensa do idealismo construtor da Grande
Pátria por cujo espírito responde com tamanha responsabilidade o próprio espírito
da mulher patrícia.
Ao Conclave Parlamentar das Províncias
Meridionais comparecem os vereadores, os prefeitos e os deputados eleitos pela
Acção Integralista Brasileira.
Pela primeira vez no Brasil se reúnem
os vereadores das Câmaras Municipais e os prefeitos pertencentes a uma corrente
politica, para estudar assuntos técnicos e administrativos.
A preocupação de planificar, de racionalizar
a execução de um programa nos âmbitos municipais evidencia o empenho que pomos
na futura planificação e racionalização de um largo programa de realizações nacionais.
O Município é, para os integralistas,
a base fundamental da Unidade da Pátria. A sua autonomia tem sido sistematicamente
destruída pela política centralizadora das Províncias erigidas em Estado.
Soberano. Todos os males de que se acusam as administrações municipais não
provém do Município em si mesmo, porém da interferência de partidos estaduais
na vida municipal. Essa interferência pela pressão do prestígio de organizações
partidárias externas redunda nesta desgraça: o povo de um Município, jamais
escolhe livremente os seus representantes Municipais. Uma verdadeira máquina
organizada de compressão eleitoral, manobrada através de um diretório político,
em remoções e demissões de funcionários, em nomeações de autoridades policiais
previamente orientadas no sentido das perseguições mais atrozes, o arbítrio na
distribuição de verbas para serviços públicos, tudo isso atrofia o espírito autonômico
dos Municípios, impedindo que a escolha dos vereadores e prefeitos se dê de conformidade
com os interesses da cidade.
Em consequência disso, geralmente as
administrações são más, pois nunca pesa sobre os administradores a ameaça da
retirada da confiança do eleitorado, uma vez que esses vereadores e prefeitos
se julgam garantidos em futuras eleições, pela força externa do partido que
interfere na vida municipal, anulando, praticamente, a teórica autonomia que a
Carta Constitucional consagra.
Os resultados dessa crescente
dominação dos sindicatos eleitorais organizados nas capitais das Províncias
sobre os Municípios inermes são extremamente graves para a Unidade Nacional. É
que, cada vez mais, desvirtuando-se a Democracia, sufocando-se a Liberdade, os
governadores dos Estados, acastelados no partido situacionista, fortalecem-se
em somas eleitorais e com elas ameaçam o Poder Central da República.
O fenômeno que se observa (e só os cegos
ou os loucos não percebem) é a concomitância de dois fatos inegáveis, que se acentuam
no desenvolvimento da política antiliberal e antidemocrática predominante no
Brasil:
1º) - O enfraquecimento político da célula
municipal;
2º) - O enfraquecimento consequente do
Poder Federal.
Engorgita-se a glândula provincial e a
Nação sofre os distúrbios de uma perturbadora disritmia. Verifica-se um desequilíbrio
mórbido que estiola as fontes da vitalidade nacional, tornando anêmica a nossa
expressão política, determinando fenômenos de esgotamento nervoso da opinião pública
e astenia muscular profunda nos órgãos de defesa da Pátria. Serve-se disso o comunismo
como disso se aproveita o capitalismo internacional. E o Brasil caminha para a
ruina em consequência de um fatozinho que passa despercebido aos nossos sociólogos
e políticos: a atrofia política do Município.
Nestas condições, estando no Município
a chave do problema nacional brasileiro, nós, integralistas, estabelecemos
estas formulas:
Para a Província, em relação à União: máximo
de autonomia administrativa; mínimo de autonomia política.
Para o Município, em relação à Província:
planificação administrativa pela Província; plena autonomia política da célula
municipal.
Seria longo expor aqui todo este capítulo,
que é básico na estrutura do Novo Estado, onde existirá a verdadeira Democracia,
a legitima Liberdade, a prática do mais puro pensamento que inspira teoricamente
o atual regime e é desvirtuado, na prática, pela política objetiva.
O que eu quero dizer é que esta reunião
no Rio, de um Conclave Parlamentar, em que tomam parte todos os vereadores,
prefeitos e deputados das Províncias Meridionais eleitos pelo Integralismo, assinala
uma afirmação importantíssima dos camisas-verdes. Sendo o primeiro congresso dessa
natureza realizado no Brasil, ele revela as linhas do nosso ideário político e
proclama os direitos de vida dos Municípios brasileiros.
Nesta hora de pregação nacionalista, eu
afirmo, com toda a minha convicção oriunda da experiência que, para mim,
madrugou, desde quando, aos vinte anos, batalhei na política municipal,
chegando mesmo a organizar numa zona do Estado de S. Paulo, um partido
municipalista, no qual congreguei numerosos Municípios: - será inútil toda pregação
de nacionalismo se não fortalecermos o Poder Central da República e, para
fortalecer o Poder Central temos de, preliminarmente, tomar a defesa da causa
do Município contra o arbítrio dos Estados.
Ou fazemos isso, ou não temos Nação.
Ou fazemos isso, ou prolongamos as lutas hegemônicas que ensanguentam nossa Pátria
de quatro em quatro anos. Ou fazemos isso, ou substituímos milhares de núcleos
de brasilidade por vinte e dois blocos heterogêneos em perpetua luta. Ou
fazemos isso, ou fortaleceremos o regionalismo, que marcha para o separatismo.
Ou fazemos isso, ou não teremos nem mesmo unidade policial, unidade judiciária,
unidade educacional, unidade moral, unidade de sentimentos para opormos uma
barreira ao comunismo invasor.
As Côrtes do Sigma, coincidindo com o
1º. Congresso Nacional Feminino e com o Conclave Parlamentar das Províncias Meridiões,
adquirem uma significação histórica extraordinária, na hora que passa.
Os fúteis, que discutem integralismo
sem conhecer nada de nossa doutrina política; os tardos de inteligência, que
não percebem a supervisão destes problemas essenciais da nossa vida de povo; os
perversos, que de propósito sofismam, apontando-nos como extremistas; os
vendidos, que trabalham a soldo de Moscou ou de Londres, esses poderão
contestar-me.
Como não sou um caçador de quatriênios,
porém um preparador de caminhos para as novas gerações, responder-lhes-ei que
estas minhas palavras serão confirmadas no Futuro: ou pela Vitória do
Integralismo, que dará Unidade, Força, Dignidade, Grandeza à nossa Pátria, ou
pela desagregação, pela ruína pela infâmia que nos trarão o separatismo e o comunismo.
Estou, porém, convencido de que os
arruinadores da Nação jamais conseguirão deter esta marcha de conscientes no
meio das turbas de inconscientes; jamais conseguirão sufocar, com as maiores opressões,
esta decisão de um milhão de brasileiros de camisa-verde; jamais lograrão
evitar que este desígnio esclarecido, esta luta no campo das ideias e dos
sentimentos, iluminada pelo estudo, pelo raciocínio, pela visão realista do
Brasil, se transforme, como já se está transformando, em fatalidade da História,
para honra da nossa gente.
Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 14 de Outubro de 1936.
sexta-feira, 16 de agosto de 2024
A REVOLUÇÃO DA ANTA (13/03/1927)
Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi
possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder
Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior
Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente,
é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o
trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/
A REVOLUÇÃO DA ANTA (entrevista de Plínio Salgado,
13/03/1927)
- Uma entrevista para O JORNAL sobre a Anta e o antismo vem exatamente
ao encontro de um meu desejo. Tenho mesmo interesse em falar ao Rio de Janeiro sobre
este assunto, que reputo da mais alta relevância para o Brasil. À primeira
vista, tudo parecerá aos intelectuais uma lírica patriotada. Parecerá que o movimento
da Anta nenhuma relação terá com a nossa vida mental. E tais considerações serão
bem naturais, uma vez que a nossa literatura perdeu, completamente, o senso das
realidades.
O RIO ENTENDERÁ SÃO PAULO?
É preciso notar: observadas em conjunto,
diferem profundamente as mentalidades das nossas duas capitais. Isso
dificultará o entendimento a que deveremos chegar. Cercada de montanhas,
olhando o mar, a cidade do Rio de Janeiro só entra em contato com a realidade
brasileira através do morro da Favela e das piadas e trocadilhos mestiço
largamente exportados pelas províncias. Ia-me esquecendo: há aí também a “macumba”,
como expressão racial... E o Dr. Jacarandá, e o cidadão Pingó, como expressão política,
sistematizada desde a Saúde ao partidarismo municipal... Mas essa vida não é vivida
pelos intelectuais que respiram ares da França. Pois tudo o mais, desde João VI
- que trouxe a cidade a bordo — tem um caráter de adaptação e de
artificialismo.
Cidade burocrata e oficial, a obra da
infiltração estrangeira, desde a Confederação dos Tamoios, têm sido aí tão
dissimulada e insinuante, que não deu lugar a uma reação forte de nativismo.
Fatalidade político-administrativa.
Aqui as massas imigratórias entram de
supetão, com tal violência, que nos puseram de pé. No panorama dos arranha-céus,
acordou a alma do povo “arrogante e sem respeito, perturbador da paz dos
continentes”, a que alude o cronista. Nos intervalos dos apitos das fábricas,
São Paulo põe o ouvido no peito do sertão: é o ritmo da vida nacional.
As ressonâncias dessa vida chegam aí
no Rio com um acento político ou literário. Indiretamente. Essa cidade conhece as
“consequências brasileiras”, não as “causas brasileiras”. O Brasil lhe parece como
uma fachada misteriosa. Quando muito, será a visão panorâmica da poesia de
Ronald.
Distinguem-se fundamentalmente as mentalidades
do litoral e do interior. Pois, em relação ao país, uma se forma de fora para dentro,
a outra de dentro para fora. Na capital da República, a disparidade com a província
é agravada pelos hábitos burocratas e de sociedade, de oficialismo e contato
forçado com as culturas e costumes exóticos. A inteligência requinta-se
apurando a faculdade crítica, sobretudo o senso de comparação e de ecletismo, em
detrimento da faculdade criadora. Possibilita-se a ironiazinha sutil das
senilidades precoces, que é a raiva piedosa contra os que sabem ainda crer.
Floresce, absurdamente, no Brasil, um
espírito como o de Machado de Assis. Ele não poderia sair senão do Rio, que
respirava então por Stendhal, como hoje respira pelas últimas brochuras
europeias. Na mais recente geração intelectual, incapaz de criar, como observa cruelmente
Rodrigo de Andrade no largo e raivoso elogio que fez no O JORNAL à intelectualidade paulista, há, mais do que o espírito de
indecisão e angústia da civilização ocidental, um cheiro de senectude humanística,
o bolor da sombria biblioteca do Sr. D’Astarak. Aquele sorriso cretino de Anatole
diante da grandeza do inexplicável; aquela risada mesentérica de Eça única ação
de que foi capaz diante da derrocada do seu país; e, principalmente, o
esnobismo displicente e tecido de uma elegância espiritual nociva, que veio de Byron
e Oscar Wilde e rebentou no almofadismo letrado dos países velhos, tudo isso
influi aí no Rio para que poucos compreendam a nossa ingenuidade de crentes. Acredito,
entretanto, que os jovens escritores do Rio não se magoarão com essa franqueza
paulista de quem lhes quer muito bem. E, quando não concordem, pelo menos, levem
estas coisas em conta de nossa imensa ingenuidade de provincianos...
AOS VINTE ESTADOS DO BRASIL E AO ACRE TAMBÉM...
Vou contar a história da Anta, não só
ao Rio, mas às vinte províncias, nossas irmãs, que respiram, como nós o sol da
América. Algumas bem saturadas de espírito clássico e latim com rapé, velhas
igrejas lusitanas, velhas academias coimbrãs, sonetos & cia. Mas todas
unidas por este mesmo sentimento
brasileiro que as colocará de pé em luta contra a ditadura de cem anos dos pensadores e artistas
estrangeiros. Contra nosso regime colonial.
A VOZ DO OESTE
A centelha do movimento da Anta
faiscou uma noite, no decorrer de uma conversa entre mim, Alarico Silveira e
Raul Bopp. A propósito de uma alusão que fiz a um artigo de Alarico (grande
espírito e profundo conhecedor de coisas nossas), falou-nos ele da marcha
bandeirante, no rumo do oeste, sugerindo as razões étnicas por que se
encaminharam os paulistas naquela direção. Para ele, era uma saudade ancestral dos planaltos bolivianos, que o sangue índio implantou
no sangue português, nas primeiras núpcias de
raças, a que presidiu João Ramalho. Os tupis tinham vindo daquela
região.
CHE TAPYA!
Referindo-se à marcha pré-colombiana e
à origem do nome dessa grande tribo, falou-nos do totem da raça, a anta ou o
tapyr — o maior mamífero da América e o único grande animal genuinamente
americano do sul — totem largamente proclamado como tal pelos guerreiros, com
os brados de “che tapya”, que vieram
atroando as brenhas, naquela procura épica e predestinada do Atlântico, por
onde vinham, também numa procura épica de continentes, as caravelas lusitanas.
Ao passo que ouvíamos
interessadíssimos o notável paulista, eu, que andava procurando a força que
possibilitou a unidade nacional, a fim de usar dela como agente destruidor da
nossa subserviência ao estrangeiro, ia sentido uma íntima revelação.
A MATEMÁTICA DOS SENTIDOS RACIAIS
Nem os sistemas hidrográficos ou
orográficos; nem a unidade do processo moral da formação brasileira; nem as
contingências políticas, me eram mais sugestivas do que o próprio sangue Tupi,
proveniente das Ibiturunas (Andes), que eu via como um “denominador comum” das
diferentes expressões humanas dos cruzamentos. Era bem verdade que não somente
o Tupi entrou na formação brasileira, uma vez que havia outras tribos
selvagens, que não eram tupis; mas o símbolo servia e podia abranger todas as
famílias autóctones, e ser tomado como “senha” de um vigoroso movimento nativo.
Pois, em toda parte, víamos o índio: Poty, no norte; Tibiriçá, no centro, e São
Sepé, no sul.
ESCRÚPULOS DA TRIBO VERDAMARELA
Quando eu e Bopp falamos da Anta,
nossos amigos verdamarelos puseram o bicho de quarentena. Tomaram-no, a
princípio, como expressivo de uma função restritiva de preconceito racial.
Espíritos irmanados no mesmo desejo e na mesma fé, Menotti Del Picchia, Cassiano
Ricardo, Motta Filho, Genolino Amado, Raul Bopp e eu, costumávamos discutir como
único intuito de chegarmos a um acordo. Na discussão tudo se esclarece. Não brigamos,
mesmo quando usamos a violência no terreno das ideias. Espírito largo de
tolerância. Acordo que estabelece desacordo. Até mesmo os que estão fora
merecem o nosso respeito. Divergimos, por exemplo, em muitos pontos, do Mário
de Andrade e votamos-lhe (de minha parte fervorosamente), uma grande admiração. Pregamos tacapadas no Oswald
de Andrade, que nos agride também no seu rodapé do “Jornal do Commercio”, e, à
noite, confraternizamos em palestras amigas na sala acolhedora do “Correio
Paulistano”. Há tempos, Prudente de Moraes, neto, disse mal de um livro meu, e
em correspondência que temos trocado, ele ficou sabendo que eu não faço questão
de ser um grande escritor. Pois, se me interessa mais a humanidade do que os
meus escritos, por que hei de amar mais a estes do que às minhas ideias? E,
porque assim pensamos aqui, tivemos uma polêmica a respeito da Anta.
Discutiu-se à beça. No fim, a anta foi aceita, mas sem vencidos nem vencedores.
TUPYRETAMA
Aqui caberia um artigo de cinco
colunas para mostrar a área geográfica abrangida pela influência tupi. E a área
moral. E a área nos domínios da política, da estética e dos costumes, etc. Mas
já estou comendo muito espaço. Deixo a sugestão.
CENSURA
Ocorre-me aqui Ratzel, um lindo
pensamento de Greef e todo um livro de José de Vasconcelos. Só mesmo num tratado
ou num manifesto 21 tiros.
NECESSIDADE DA TIRANIA DO SERTÃO
Para mim, o “Facundo”, de Sarmiento,
tomava um novo sentido. Eu via o homem brotar da Terra e avançar para a cidade.
Eu via a grande cortesã, visionada pelo profeta de Pathmos, invadida por uma
manada de antas arrasadoras do cosmopolitismo, da crítica negativista, da
falsidade das atitudes e, principalmente, dessa incapacidade de crer,
remanescente de uma educação humanista e esnobe. Revoltava-me contra todos os
passivos: desde os que se aferram às fórmulas velhas da filosofia, da política
e da estética, até os que fazem arte nacional através de Marinetti e Max Jacob.
Indignava-me a poesia turista de Cendrars; os vícios de Cocteau, Apollinaire,
Morand; a macaqueação ultraísta e o estado “dadá” de espírito; e, mais ainda,
as contrafações de modernidade, em poetas ainda com prejuízos tangíveis do
parnasianismo e do simbolismo. Os gestos, mal vestidos de atualismo, de um ingurgitamento
romântico a Rousseau; o romantismo sensorial dos impressionismos “torre de
marfim”: o preciosismo acadêmico geometrizando-se diferente no teorema cubista,
submetido a um princípio e realizado sob preconceitos processuais. Em tudo, o
predomínio de mil Lobões praxistas, desses Lobões cujo senso do direito nunca
passou do rito e nos quais, por certo, a alta finalidade da estética jamais
iria além da norma consagrada no “boulevard”. Já não quero falar do panorama
político-social, do qual tratarei mais tarde. Mas foi assim conjecturando que o
li meu “nheengassu” que desencadeou a discussão que se tornou base do acordo em
que hoje estamos em São Paulo de desenvolver uma ação nova no Brasil. Interpretando-se
com novo sentido “Os Sertões”, de Euclides, e o “Facundo” de Sarmiento.
PORQUE O INDIO
Escrevi, em um dos meus artigos, o
seguinte:
“Eu ainda não vi o Brasil vivo e
pensante: o que eu tenho visto é uma Europa viva e pensante vivendo e pensando
o que nós chamamos de nossa vida e o nosso pensamento. Mas, há uma outra vida e
um outro pensamento, que devemos revelar ao mundo; e esse é o Brasil vivo e pensante
que dorme pesadamente sobre uma montanha de livros e que precisamos despertar
porque se aproxima o momento da sua fala
sem haver consciência, precisamos libertar-nos de todas as contribuições de
consciência alheia. Como símbolo da ação que
temos de desenvolver, tomamos o totem de uma raça que, objetivamente,
desapareceu, porém que é uma incontestável realidade na nossa formação étnica.
E não se confunda formação étnica com formação nacional, que é outra coisa
decorrente desse fator e de outros ainda. E se nos perguntarem porque tomamos o
índio, diremos que pela sua virgindade a nos ensinar, constantemente que, não
tendo nós ainda pensado pelas nossas cabeças, podemos fazê-lo sem compromissos
com as velhas civilizações. Responderemos ainda que, pela nenhuma contribuição
cultural e civilizadora que ele nos trouxe à formação nacional, pode a nação
dizer-se sua descendente, sem submissão histórica, até sem gratidão, o que a faz
mais livre. E foi justamente esse senso de individualismo nacional que ensinou
as clãs primitivas a se dizerem descendentes de bichos: para que pudessem fazer
sua eclosão com uma força de liberdade selvagem.
A CIVILIZAÇÃO DIFERENTE
Depois, declarei:
“Nós
queremos criar uma nova mentalidade, não desenvolvida exclusivamente sob
o influxo da cultura universal, mas respirando nesta, com raízes na terra. E
quando digo “terra”, quero abranger “meio cósmico e étnico”.
Não sei ainda “como será” a cultura
americana. Aos gênios do futuro compete responder-nos a angustiada pergunta.
Não podendo alcançá-los, queremos comovidamente anunciá-los ao Mundo.”
NÃO SE TRATA DO INDIANISMO
Escrevi esta frase 17 vezes em cinco
artigos. Mas escrevo ainda mais uma vez. Não se trata de indianismo.
O que queremos é um Brasil masculino,
que tenha a iniciativa dos atos fecundantes. Pois há povos masculinos, que
fecundam, e povos femininos, que são fecundados. Como há espíritos femininos,
que se emprenham pelo ouvido. Queremos, pois, um Brasil brasileiro. Não faço
isso por patriotismo, mas por humanidade. Pois vejo que a civilização ocidental
europeia faliu. Já nada se espera dela. Temos (e quando falo temos quero
abranger vários séculos futuros), temos que criar uma civilização em que talvez
o gênero humano seja mais feliz. Isso
parece pilhéria, aos espíritos (como a maior parte dos intelectuais
brasileiros), que esperam sempre o resultado do que se dá em outros países. Mas
creio firmemente que não o é. Ponho uma grande fé na “raça cósmica” de que fala
José de Vasconcelos. Ela poderá dizer a última palavra.
Voltemos à sabedoria da infância. Por que
nascermos velhos? A Europa é uma velha caduca, nós somos um povo criança.
Declaremos à velha que somos filho do índio como o índio era da anta. E nada
temos a ver com gente estranha. O movimento da Anta é de ação. Ação verdamarela
de independência. Sentir diretamente, dizer diretamente. Perder essa noção do ridículo,
ministrada por estrangeiros e inimigos, essa noção que nos fez perder o brio
nacional. Não mais dizermos que somos latinos. Isso é política que nos prende eternamente à Europa.
E onde já se viu caboclo e mulato latino? Acabemos com esse respeito
supersticioso pelas coisas que vêm de fora. Sejamos brasileiros para sermos
dignos da Humanidade.
Publicado originalmente n’O Jornal, Rio de Janeiro, 13 de março
de 1927.
quinta-feira, 15 de agosto de 2024
SABER PERDER (07/05/1936)
Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi
possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder
Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior
Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente,
é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o
trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/
SABER PERDER (07/05/1936)
PLÍNIO SALGADO
No
meio de todo o esfacelamento de um sistema político, da podridão dos costumes eleitorais
e dos processos de campanha partidária, nos Estados Unidos da América sempre
restou, como uma flor a desabrochar num pântano, aquela elegância dos
contendores, que sempre foi um padrão de legítimo orgulho dos políticos nos
Estados Unidos e um exemplo para todos os povos.
Travada
a luta eleitoral, ferida a batalha decisiva das urnas, realizadas as apurações,
o vencido, imediatamente, apressava-se a saudar o vencedor, indo, muitas vezes,
apertar a mão do adversário, dando como fato consumado a derrota de um e a vitória
do outro.
Chegou
mesmo a ser costume ir, algum tempo depois, a esposa do presidente eleito, quando
o adversário derrotado era o presidente em exercício, visitar a Casa Branca, a fim
de determinar os novos arranjos do palácio, de conformidade com os gostos dos
novos hóspedes: e, recebida pela senhora do vencido, esse encontro exprimia
ainda um dos requintes de delicadeza que sobrou no meio de toda a brutalidade e
agressividade das campanhas chamadas democráticas.
*
* *
Isso,
que desperta a admiração e o respeito, essa atitude de cavalheirismo e de elegância
moral, costumam os jogadores chamar, na sua pitoresca gíria: "saber
perder".
Sim;
porque até no vício mais apaixonado e perigoso, na desenfreada jogatina, também
existe uma ética, uma regra moral, através da qual se conhecem aqueles que, em
pequenos receberam alguns rudimentos de educação.
Há
mesmo um dito da velha sabedoria popular, que nos ensina poderem os homens ser
conhecidos em dois lugares, na mesa e no jogo. O comportamento diante dos
pratos e o comportamento diante das fichas do pano verde revelam os indivíduos
capazes e incapazes de se controlar, de dominar os nervos, de refrear os ressentimentos.
*
* *
Podemos
acrescentar que também na política se conhecem os homens educados, os que não
se afastam da elegância moral, das condutas irrepreensíveis dos que sabem
perder.
Estas
considerações vão a propósito das recentes, eleições em Santa Catarina. Como se
sabe, ali, o Integralismo venceu, estrondosamente, tanto o Governo como o
Partido da Oposição. Venceu não por diferenças de dezenas, porém, de centenas
de votos, apoderando-se da quase unanimidade dos postos de vereadores, nas
principais cidades catarinenses, e assenhoreando-se de cerca de uma dezena de
prefeituras municipais, em lugares da maior importância econômico-financeira,
industrial, social e política daquele Estado?
Que
fizeram os partidos?
Portaram-se
como os jogadores que, tendo perdido, deblateram, maltratam os parceiros,
lamentam a sorte, acusam de roubalheira a infelicidade nas cartas, oferecem a
todos os circunstantes a impressão desagradável dos rancores inspetados e da
sovinice mais revoltante?
Tendo
perdido as eleições, os partidos liberais começaram a afirmar que não existia
Integralismo em Santa Catharina, e sim hitlerismo, pois os nomes dos candidatos
eram quais todos de alemães.
Quem
examinava a lista dos candidatos dos partidos reclamantes logo reparava que nela,
na lista deles, é que figurava muito maior número de sobrenomes teutos, circunstância,
aliás, perfeitamente razoável, pois a maior parte dos habitantes de Santa Catarina
é filha neta, bisneta ou tataraneta de alemães, guardando os sobrenomes de seus
pães, avós, bisavós ou tataravós.
Em
seguida, quando nós; integralistas, para nos defender de tão sórdidas acusações,
publicamos os boletins eleitorais, tanto do Governo como da Oposição catarinenses,
que, eles distribuíram em alemão, nossos adversários derrotados mudaram de tática.
Foram ao Tribunal Regional reclamar contra simples formalidades, meramente de
pormenores exteriores, sem nenhum valor de formalidade essencial.
*
* *
Dessa
maneira, tenta-se, agora, em Santa Catarina, anular a eleição dos
integralistas, sob o pretexto de que, na procuração enviada pelo Chefe Nacional
ao Chefe Provincial, não constava o poder para nomear delegados de partido, e
apenas se verifica naquele instrumento o poder para registrar candidatos.
Como
futilidade, é maravilhoso! Como sofisma, é grosseiro, porquanto na procuração a
que se referem, há plenos poderes para a prática de todo e qualquer ato
relativo aos interesses partidários da Acção Integralista Brasileira. E, finalmente,
como atitude, podemos classificar simplesmente como vergonhosa!
Que
vergonha, realmente! Perde-se uma eleição, e, em vez de se manter uma linha de conduta
compatível com o decoro de derrotado, não! Vai-se ao Tribunal, e para que? Para
chicanear sobre um pormenor da procuração do adversário!
Mesmo
que houvesse (o que só admitimos para argumentar) qualquer falta de
formalidade, e ainda que essa falta se referisse à formalidade essencial,
francamente, quem foi derrotado por tão formidável diferença, deveria, mesmo
para não chamar a atenção do país, conservar-se calado.
O
silêncio, nestes casos, prestigia. O silêncio, nestas circunstancias,
dignifica, eleva. Toda e qualquer palavra, só serve para anunciar, bem alto, a
derrota.
A atitude
de nossos adversários em Santa Catarina equivale a mais um fracasso.
No
pleito municipal de março, o fracasso deles foi um fracasso eleitoral. Nas
objeções levantadas perante o Tribunal Eleitoral, esta semana, o fracasso foi
essencialmente moral.
Depois
de abatidos nas urnas, pelos Integralistas, os partidos políticos ainda
poderiam não se deixar abater na sua honra de cavalheiros, na sua linha de conduta,
no seu decoro. Mas eles não se conformaram com o esmagamento de março e quiseram
eles próprios, se esmagar, como estão fazendo, na ridícula reclamação com que
recorrem de um pleito em que o povo os repeliu de maneira tão eloquente e
decisiva,
A vitória
que, dentro de alguns dias, o Integralismo alcançará perante a Magistratura, constituirá
a terceira derrota para esses eternos chicaneiros, tão ridículos, tão
pequeninos, tão incapazes de saber perder com honra, com dignidade, com.
elevação moral.
Publicado
originalmente n’A OFFENSIVA, em 07
de Maio de 1936.
sexta-feira, 2 de agosto de 2024
Realidades e finalidades (15/10/1936)
Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível
graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder
Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior
Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente,
é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o
trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/
Realidades e
finalidades
(15/10/1936)
PLÍNIO SALGADO
EM 15 DE SETEMBRO DE 1931, PUBLIQUEI NO JORNAL “A RAZÃO”, DE S. PAULO, O
SEGUINTE ARTIGO:
"Encarar os problemas
brasileiros, segundo as nossas realidades é indispensável, mas não é tudo. A
posse do "real" não terá sentido político, sem uma fixação de diretriz
IDEAL.
Verifica-se a verdade objetiva para
sobre ela fundar a tradução da verdade subjetiva. E' sobre a realidade concreta
que temos de trabalhar e, justamente por isso, não se pode pré-estabelecer uma
boa política, sem o conhecimento integral de todos os elementos da realidade
social.
Pois é possível ter-se uma excelente
finalidade e uma má política, do mesmo modo como se pode praticar ama excelente
política, sem nenhuma finalidade. E enquanto, no primeiro caso, se agirá numa
esfera puramente abstrata, no segundo erraremos por excesso de submissão ao
concreto. E na política, como em tudo, a unilateralidade, se não chega a ser a
ilusão da verdade, é entretanto a verdade parcial.
*
* *
Eis porque, ao encararmos as questões
do nosso país, devemos nos convencer de que elas não serão resolvidas se não
fizermos derivar o nosso processo político de uma série de fatos incontestáveis
de ordem econômica, étnica, geográfica, histórica e moral. E, nesse caso, a política
brasileira deve ter um caráter de coordenação, de aproveitamento de forças
latentes que, de nenhuma forma, podem ser abandonadas e muito menos contrariadas.
Mas esses fenômenos da vida nacional não devem ter uma finalidade EM SI, o que redundaria num fatalismo
que a ordem social e jurídica da Nação iria consagrando, submetidos no
evolucionismo materialista. Nem poderiam essas expressões isoladas, e por
vezes, contrastantes, do país, se uniformizarem uma fisionomia total, se cada
uma obedecesse à sua própria dinâmica, sem relação com o sistema de movimentos
do conjunto nacional.
Quem estuda qualquer dos setores das
questões brasileiras, de um ponto de vista de rigorosa inspeção objetiva, encontra
realidades que, repelindo-se, segundo o sentido de suas relações recíprocas, podem
se harmonizar em referência a finalidades comuns.
COMO EXEMPLIFICAÇÃO, temos a VIDA MUNICIPAL, A VIDA
ESTADUAL E A VIDA ECONÔMICO-SOCIAL, três aspectos da paisagem política
brasileira, todos os três muito significativos e respeitáveis, e que o
estadista não pode dissociar, se quiser REALIZAR
A NAÇÃO com finalidade bem fixada.
*
* *
Não se compreende uma política
baseada exclusivamente nas realidades brasileiras, tomadas estas como CAUSA E EFFEITO. E não se compreende
também uma política firmada exclusivamente numa série de ideias abstratas, sem
consonância com os fenômenos ambientes.
O próprio NACIONALISMO, que seria, originando-se exclusivamente das REALIDADES, uma consequência vaga e
transitória, pode levar a erros os mais lamentáveis, se ele não constituir um MEIO e pretender firmar-se como única e
despótica finalidade.
O nacionalismo deve ser entendido tão
somente como a forma de realização de um povo num sentido de humanidade
superior. Entendido de outra maneira, ele fará da Pátria, em vez de uma expressão
ideal de aperfeiçoamento, um índice de ambições desumanas, levando-as às
guerras injustas e absorção de todas as liberdades pessoais. E a Pátria deixará
de ser a projeção coletiva de interesses individuais para se afirmar como arbítrio
e tirania.
*
* *
O pensamento político deve traçar uma
finalidade à Nação e dar-lhe os elementos de possibilidade, com o ordenamento
das forças oriundas do Impositivo das realidades do país.
Nem é possível harmonizar os fenômenos
da completa vida brasileira, se não estabelecermos, de antemão, os princípios
fundamentais do sistema político. Os nossos homens públicos, em geral,
desdenham da filosofia, portando-se como viajantes que tomassem um comboio de
uma à outra estação Intermediaria entre o ponto inicial e o terminal. Repousam
nas finalidades puramente administrativas e sorriem superiormente de quantos
pretendam indagar das causas e dos objetivos nacionais. E, abandonado o povo
brasileiro às suas realidades, o Brasil vai se tornando uma Nação sem objetivo
político.
*
* *
É essa, possivelmente, uma das causas
da nossa cada vez mais confusa complexidade. Nada mais apolítico do que o político
brasileiro. Sendo um país onde mais fervilha a politicagem, o Brasil não
conseguiu ainda compreender a alta significação da política. Pois esta não tem
entre nós nenhuma relação com a sociologia nem um SENTIDO ESSENCIAL, ficando em meras objetivações transitórias.
Entre a verdade abstrata das elites e
as verdades concretas cuja pressão se exerce sobre o nosso partidarismo empírico,
há um vazio imenso onde não se afirmou ainda uma mentalidade capaz de DIRIGIR REALIDADES, em vez de se deixar
empurrar cegamente por elas, e de prefixar finalidades traçando OS CAMINHOS impostos pelas possibilidades
e necessidades.
*
* *
Temos visto, expondo singelamente nas
notas que denominámos "Panorama", as tendências de grandes zonas
brasileiras; naquelas em que fizemos o relato da "Vida municipal", a
íntima fisionomia da célula em que o regime republicano se alicerça; em outras focalizámos
as aspirações estaduais, que ocasionaram a revolução de Outubro; em outras,
finalmente, apreciámos, o aspecto dos problemas econômico-sociais; e tudo isso
é o Brasil. O Brasil complexo, conjunto de nações politicamente distintas, em que
se estendem com cartografia própria, países essencialmente distintos, que abrangem
muitas vezes até frações de certos Estados. O Brasil com a concomitância de vários
estágios de evolução econômica e vários tipos de psicologia social. O Brasil
sem a cristalização de uma mentalidade e sem um tipo de cultura. A descontinuidade
social na continuidade histórica.
As forças desse país complexo e
pasmosamente unido só poderão ser ordenadas pelo gênio político que provoque a
reação generalizada mediante uma forte ação nitidamente definida.
Esse estadista deverá ser capaz de
apreender as ideias gerais, porém não deverá repousar exclusivamente nelas.
Deverá ser um teórico em fane dos chamados políticos, e um PRÁTICO em face dos ideólogos e letrados. Deve saber aceitar, para
poder conduzir. Deve saber entender, para poder disciplinar...
E não pôde, principalmente,
constituir uma improvisação, um advento messiânico, mas o índice de uma consciência
política e social que traga consigo a posse das realidades e a diretriz de una
finalidade humana.
Por ora, é o que nos cumpre: criar essa
consciência."
*
* *
Esse artigo saiu em 1931. Hoje,
existe o Integralismo no Brasil. A sua linha política nunca se afastou das diretrizes
desse artigo. No começo, tive multos críticos: os literatos chamavam-me de político;
os políticos chamavam-me de literato. Não escutei nem os homens
"práticos", nem os homens "teóricos", No começo, isto me foi
difícil dentro do próprio Movimento; é que eu tinha, de um lado, a resistência
dos "místicos" incapazes de entender as consequências de passos cujos
efeitos se fariam sentir alguns anos mais tarde, e de outro lado eu tinha a
precipitação dos "oportunistas" (no bom sentido, é claro), incapazes
de perceber o segredo de minhas resistências.
Mantive a linha do equilíbrio e pude
criar uma Política, num país onde nunca existiu Política, pois o que temos tido
é simplesmente politicagem. A orientação traçada no artigo que acima reproduzo
está plenamente triunfante
Como um só corpo, realizando a
unidade perfeita do pensamento político, o Integralismo conciliou a filosofia e
a sociologia e foi ao contato experimental dos fatos na história de quatro anos
deste Movimento nacional de que se originou a mística da autoridade.
Somos hoje um milhão de brasileiros
unidos As assembleias das "Cortes do Sigma", do Congresso Nacional
Feminino e do Conclave Parlamentar que terão início amanhã, correspondem a uma grande
parada das forças novas iluminadas por um ideal filosófico que gera o conceito
do Estado, e por um conhecimento prático da vida brasileira de que provem uma
concepção de política objetiva.
Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 15 de Outubro de 1936.
sexta-feira, 26 de julho de 2024
Fantasia indigna e realidade honesta (03/05/1936)
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Fantasia indigna e realidade honesta (03/05/1936)
PLÍNIO SALGADO
O
Integralismo é, antes de tudo, a política das realidades humanas. Não
pretendemos fazer um regime para querubins e serafins. Não pretendemos criar um
Estado para uma corte celeste. Queremos, porém, engendrar um sistema que, ao
mesmo tempo, objetive:
1º) -
impedir que a maldade humana, que reconhecemos ser uma das realidades sociais e
particulares, atinja suas consequências funestas para os interesses da
coletividade e dos grupos naturais;
2º) -
criar um clima moral de aperfeiçoamento dos espíritos, mediante uma obra
sistemática de educação e de exemplos, capaz de elevar, gradativamente, os
corações e as inteligências até à compreensão perfeita da virtude e à sua
prática.
Nós,
integralistas, não somos otimistas. Não acreditamos que o problema humano
esteja apenas no homem. Se assim fosse, pleitearíamos, desde o início, uma
revolução de quadros; proporíamos uma substituição de homens por outros homens,
e nada mais. Seria indigno de nós e dos superiores ideais que representamos,
acreditar que os indivíduos perfeitos são aqueles que estão fora dos postos
políticos e de administração pública do Brasil. Sabemos mesmo que, dentro do
próprio movimento integralista, existe uma quantidade apreciável de patrícios
de boa vontade, que vestiram a camisa-verde no empenho sincero de concorrer
para a salvação do país, patrícios esses, porém, que estão cheios de defeitos,
de baldas liberais-democráticas e de pecados e incorreções que eles se esforçam
por apagar de si mesmos. Sabemos que o nosso recrutamento de brasileiros não
pode ter a pretensão de aliciar santos, anjos e arcanjos. Se homens dessa
altura moral existissem no país em número tão grande como os algarismos das
estatísticas integralistas, o nosso movimento não se explicaria como uma
necessidade histórica. O Integralismo é necessário, justamente porque temos de
reeducar o povo brasileiro. Só se reeducam aqueles que estão dispostos a isso.
Estar disposto à isso já é um sinal de saúde moral, de reação espiritual e
primeiro passo no caminho do aperfeiçoamento.
*
* *
Ora,
assim sendo, o Integralismo objetiva, de um modo "imediato", uma
reforma profunda nos métodos de governo, capazes de encarar a realidade política
do país, assim como a realidade social. Capaz de enquadra-las e dirigi-las.
Controlar as atividades econômicas e financeiras, traçar as normas coercitivas
da moralidade pública, da educação, da formação do caráter nacional, impor
ordem e disciplina, tornar imperativo o principio da autoridade, prestigiar esse
princípio de autoridade: pela exigência mais rigorosa do procedimento público e
privado dos homens que a encarnarem.
De um
modo "imediato", pois, objetivamos reformas políticas, pretendemos
adotar novos processos, novos métodos de democracia mais condizentes com as realidades
humanas e as realidades brasileiras. Submeter uma sociedade de loucos, de
agitados, de epiléticos, de místicos alucinados, de sonhadores mórbidos, de
superexcitados sexuais, de dipsomanos, de fingidos, de vaidosos, de mentirosos,
de ambiciosos, de delirantes, a um regime dietético e desintoxicante, eis a
missão do Estado, missão que ele só cumprirá conduzindo-se ele próprio até aos
limites traçados pela natureza humana.
Agora,
de um modo "mediato", pretendemos atingir, ao cabo de longos anos de
ação doutrinária, de ação educacional, de imposição de normas pelo exemplo dos
dirigentes, o máximo de aperfeiçoamentos morais, obra essa que durará várias
gerações, pois estou certo de que não realizarei numa só geração aquilo que foi
destruído sistematicamente em muitas gerações que me precederam.
Quando
os Iiberais-democratas, fanáticos de um regime, pretendem fazer a apologia do
seu sistema, costumam dizer que o sistema é perfeito, mas os homens é que não o
tem cumprido.
Esse
argumento demonstra que o sistema não presta. Por excessivo na confiança que
depositou nos homens, acreditou mais nestes do que em si mesmo. Pretendendo
realizar-se, não ofereceu em si próprio os elementos coercitivos da ação desmoralizadora
dos homens, os fatores impositivos de uma orientação superior, antes, pelo
contrário, deixou-se estar entregando seu próprio destino de coisa perfeita à
discrição dos seres imperfeitos. Em vez de concorrer para o progresso do espírito
humano, concorreu para o seu regresso. Em vez de se tornar lei viva, tornou-se
lei morta.
Essa
é a razão porque, nesta pregação integralista, insiste sempre neste tema: não
ultrapassar a linha do equilíbrio, para não cair na mesma hipocrisia dos liberais.
Que
adianta termos uma norma de conduta admirável impressa em nossos livros,
estatutos, manifestos, cartilhas, artigos e ensaios, ordens do dia e diretivas?
Que adianta, se, na prática, são os próprios pregadores que agem em contradição
com a sua doutrina?
Não
será isso muito mais pernicioso para a mocidade? Não será um crime praticado
perante a Nação?
*
* *
O
senso das realidades humanas é fundamental no Integralismo. Esse senso de
realidade nós o encontramos na fonte de que viemos: o espírito cristão. E eu
tenho visto muitas vezes, dentro do próprio movimento integralista, quanta
imperfeição se acoberta debaixo dos maiores exageros de doutrina moral.
Aos
chefes, aos dirigentes, aos apóstolos, aos. funcionários, aos que detêm uma
parcela de autoridade em nosso movimento, digo francamente que prefiro, mais do
que a palavra, o exemplo. Eu sei da grandeza e da beleza trágica dessa luta que
se trava no íntimo dos espíritos de uma geração que teve a suprema glória de
reagir a tempo contra tudo o que estava podre, contra a herança de miséria que
recebemos das gerações precedentes. Eu sei bem dessa luta. Sei, porém, que não
haveria virtude se não houvesse luta.
Como
Chefe deste movimento, eu não sou dos mais cruéis na exigência, dos mais implacáveis
na condenação dos erros, dos mais violentos castigadores do mal, justamente
porque compreendo a batalha que suscitei no coração de cada um. Tenho reparado,
porém, que os mais cruéis no seu puritanismo são quase sempre os que não
examinam suas próprias fraquezas, e, de tal forma se inebriaram pela
moralização objetiva, que se esqueceram dos deveres subjetivos, cuja base é o sentimento
mais profundamente cristão.
Quero
que os integralistas compreendam bem o sentido que dou a estas reflexões, para
que vivam em paz e se fortifiquem no conhecimento de suas próprias fraquezas,
e- confiem tanto em si mesmos como nos seus companheiros, todos confiando, em
primeiro lugar, n'Aquele que, não nos dando a mão, nos deixará na mais tremenda
das confusões.
*
* *
O
exemplo que a liberal-democracia está oferecendo ao mundo, com a situação atual
da Europa, demonstra como toda a doença da humanidade de hoje é a hipocrisia.
Os liberais-democratas fingem acreditar nas virtudes de uma civilização e de um
regime, que eles mesmos desrespeitam, adotando, na prática, os métodos mais
reprováveis de violências.
Não
adotemos esse exemplo. Que Jamais a crença em nossas virtudes e nas virtudes do
Integralismo seja um fingimento. Por isso o Integralismo é a doutrina da
realidade. Da realidade cuja inspiração deriva da fonte milenária do Evangelho
e, para os povos, como para os indivíduos, para as sociedades e para as
Nacionalidades, será sempre a "fonte de água viva", daquela água a
que o Nazareno alude junto do poço de Jacob, à Samaritana maravilhada. Essa água
viva de eternidade e de força chama-se sinceridade. Sentido de equilíbrio e de
harmonia, sentido de justiça e misericórdia, sentido de humildade e de sacrifício,
sentido de realidade material, intelectual e moral. Numa palavra: sentido de
Humanidade.
Publicado
originalmente n’A OFFENSIVA, em 03
de Maio de 1936.
quinta-feira, 4 de julho de 2024
COM A PALAVRA O SENADOR COSTA REGO (17/10/1936)
Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi
possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder
Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior
Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é
Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o
trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/
COM A PALAVRA O SENADOR COSTA REGO (17/10/1936)
PLÍNIO SALGADO
Na hora em que se realiza, na Capital
da República, pela primeira vez na História do Brasil, um conclave de deputados
estaduais, prefeitos e vereadores, sem preocupações estaduais e com um só
pensamento nacional de unidade da Pátria;
na hora em que se realiza, com o mesmo
pensamento e o mesmo sentimento, o 1º Congresso Nacional Feminino da A.I.B.,
que realiza o milagre de reunir no Rio senhoras e moças de todas as Províncias;
na hora em que, culminando essas
imponentes manifestações do Brasil-Uno e Indivisível, reúnem-se, também, em
Guanabara, os Chefes Provinciais do Integralismo em todo o país, para tomarem
parte, com o Supremo Conselho, o Secretariado Nacional e a Câmara dos Quarenta,
nas assembleias das Côrtes do Sigma:
- Eu não preciso, para significar a
importância desses fatos, escrever o meu artigo quotidiano.
Escreveu-o, por mim, publicando-o no
"Correio da Manha", de ontem, o senador Costa Rego, diretor daquele
importante matutino.
Dou, portanto, a palavra a Costa Rego:
"OS FATORES DA UNIDADE"
"A língua é um fator inconcusso
da unidade brasileira. Não é certamente o único, porque, isolada, ela não faz a
unidade; mas a unidade que se funda, entre outros elementos, na língua é sempre
forte.
A este respeito, o Brasil apresenta um
exemplo impressionante, quando o comparamos com as outras nações: não há entre
nós nenhum dialeto, ao passo que os há mesmo em Portugal.
Mario Marroquim estudou o fenômeno e
atribuiu-o à "mobilidade brasileira", quer dizer ao hábito de
deslocar-se o homem de um para outro ponto do país. Esse hábito foi-lhe, de
resto, imposto pela própria natureza, tão vasta e surpreendente que o seduzia
sempre à aventura. Resultou, por fim, da divisão administrativa da terra, que,
tendo criado núcleos diversos, disseminou uma população de costumes idênticos.
Criaram-se - era natural - verdadeiras
zonas linguísticas, com peculiaridades que não chegaram, entretanto, a afetar a
estrutura do idioma e lentamente se diluem na evolução dos modos.
Diluir as peculiaridades das zonas
linguísticas é, assim, um trabalho político a sustentar. Nesse trabalho colabora
grandemente o Exército, que, sendo, pela unidade militar, um instrumento da feição
mais característica da unidade nacional, estabelece o contato continuo das
inteligências na permanente deslocação das guarnições, formadas por homens de
todas as zonas, fundidos no mesmo sentimento superior do serviço da Pátria.
O problema da unidade brasileira – não
nos iludamos - há de ser sempre, através dos anos, o grande problema político
do país, pois não basta possuir a unidade: é necessário preserva-la. E ela fica
tanto mais exposta quanto é certo que, promanando até hoje de forças morais,
pode sofrer o ataque das forças econômicas mal encaminhadas, propendendo para
os regionalismos da produção e do comércio. É o que tenho procurado combater na
criação absurda de uma frota mercante regional, como a projetada, do Rio Grande
do Sul, em detrimento tácito do Lloyd Brasileiro, esse outro grande instrumento
de unidade, que um antigo ministro da Fazenda, por coincidência filho do Sul,
já quis levar à falência.
A política é no Brasil um desencanto
onde não raro se estiolam as boas vontades. Poderíamos modifica-las no sentido
de uma permanente inquietação em torno do Brasil não apenas unido, mas uno. A simples
união não é a unidade.
Todo brasileiro tem, a meu ver, um
esforço indiscutível a cumprir, qualquer que seja sua religião, seu partido ou
sua zona de nascimento: é o esforço de afastar os fatores de desagregação.
Nem sempre os grupos políticos, em sua
ação estritamente partidária, avivada ou empecida, conforme as conveniências,
pelas rivalidades funestas das pessoas e dos interesses, compreendem o problema
da unidade. Para eles estando feita a unidade é intangível.
Mas os povos crescem e marcham. No
crescimento e na marcha eles procuram um destino que preciso fixar, sob pena de
crescerem e marcharem sem o sentido nacional, repetindo velhos dramas da História.
Há seis anos, surgiu no Brasil um
movimento a que muitos, em sua insciência do que exprimem e podem as exaltações
coletivas, não deram o devido apreço. Quero referir-me ao Integralismo. O Integralismo
realizou o milagre, ainda não visto na República, de uma coordenação rigorosamente
nacional.
Ao mesmo tempo em que este
acontecimento se verificava, o Código Eleitoral outorgado pelos poderes instituídos
em 1930 prescrevia e estimulava a formação dos partidos do mesmo gênero, isto
é, nacionais. Cedo, porém, os vícios da Política pura e simples frustraram esse
ideal, que haveria servido à causa da unidade. E o Integralismo - só ele, isolado
- constitui hoje o elemento essencialmente político em luta pelo país uno, enquanto
nós outros perdemos um tempo sem fim para tornar o país apenas unido. Mesmo os
que não adotam a doutrina deveriam impressionar-se com o facto.
Há, por conseguinte, uma obra de pensamento
a concluir, e ela depende - reconheçamos – da coragem com que enfrentarmos a
realidade, em lugar de nos afundarmos nas praxes obsoletas do regionalismo, a
que já devemos tantas de nossas penas e tantos de nossos erros."
Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 17 de Outubro de 1936.