Esclarecimento: A
publicação do Artigo abaixo só foi possível graças a generosa colaboração do
Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da
História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o
acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito
Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando
indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/
Não há extremismo da direita (07/11/1936)
Plínio Salgado
- Que
é o extremismo?
- O
extremismo, segundo está definido na Lei de Segurança Nacional, é o emprego de violência,
ou a pregação de métodos violentos com o objetivo de tomar o Poder, e, de um
modo geral, a propaganda de qualquer doutrina tendente a provocar lutas no seio
da sociedade, entre classes, religiões, raças ou regiões.
- O
extremismo então pode ser encarado sob dois aspectos?
- Sim;
porque o extremismo pode ser exercido no domínio dos "fatos", ou no domínio
das "ideias". Pode-se até dizer que há três espécies de extremismos:
1º) o extremismo-prático; 2º) o extremismo-ideológico; 3º) o extremismo prático-ideológico.
- Poderá
dar-me alguns exemplos para minha melhor compreensão?
- Pois
não. O extremismo-prático é, por exemplo, o de um governador de Estado (estou
figurando uma hipótese) que começasse a dispender grandes quantias para armar
soldados, ato esse inequivocamente preparatório de desprestígio do Poder
Central e ameaça à paz interna do país. É também o caso de um partido político,
partidário da liberal-democracia, ou da socialdemocracia, que tenta um golpe de
Estado. É, enfim, o caso de uma revolução de quadros, isto é, pretendendo uma
mudança de homens. Quanto ao extremismo ideológico é o comunismo, na sua fase preparatória,
incitando a luta de classe, a luta contra as religiões; são também os que
estimulam a luta entre as diversas regiões do país, pregando o separatismo; são
também os que pregam a destruição de uma raça. E, quanto ao extremismo pratico-ideológico,
é já o ato conspiratório, ou francamente revoltoso, levado a efeito por aqueles
que doutrinariamente disseminam as ideias de luta ou de dissolução: é o caso típico
da revolta comunista de novembro do ano passado.
- Que
espécies de extremismos há no Brasil?
- O
extremismo que existe no Brasil é o ideológico-pratico, isto é, o comunismo
bolchevista.
- Como
é que se fala frequentemente em extremismo da esquerda e extremismo da direita?
- Por
burrice ou velhacaria. Extremismo da direita não existe e nunca existiu a não
ser na cabeça dos comunistas que, agora, covardemente,, se escondem por detrás
dos politiqueiros, como já se esconderam uma vez atrás de crianças, quando tirotearam
estupidamente os Integralistas em Bauru.
- O
Integralismo não é extremismo da direita?
- O
Integralismo nem é extremismo e nem é da direita. Para nós não existe nem
esquerda, nem direita e nem centro, porque o brio, a vergonha de um Povo, que
somos nós, não ficam nem na face esquerda, nem na direita, mas ruborizam todo o
semblante. Essas expressões "direita" e "esquerda" foram
inventadas pelos comunistas que são materialistas, evolucionistas e dialéticos,
doutrinas essas que concebem sempre a luta. Nós não concebemos a luta, mas a
harmonia. Se pregássemos a luta, tendo uma concepção de "esquerda” e de
"direita", só por isso não seriamos integralistas, pois esse conceito
é um contrassenso para quem compreende o universo, a sociedade, a nação, os
homens, de uma maneira integral. Todo aquele que usar das expressões
"direita" e "esquerda" está prestigiando a doutrina dos dialéticos
de Marx, dos darwinianos do materialismo histórico, que pregam a luta de
classe. E, se não pregamos a luta, se a condenamos ao ponto de não considerar o
mundo dividido em "esquerda" e "direita", mais logicamente
se patenteia que não somos extremistas do ponto de vista ideológico. Se fossemos
extremistas, teríamos de adotar os ensinamentos de Sorel. Ora, Sorel é discípulo
de Darwin, de Haeckel, de Lamarcke, dos materialistas, conforme ele mesmo demonstra
no seu livro "Reflexões sobre a violência". Portanto, s fossemos alunos
de Sorel, seriamos adeptos dos materialistas: sendo adeptos dos materialistas, deixaríamos
de ser espiritualistas: deixando de ser espiritualistas, deixaríamos de ser
integralistas; deixando de ser Integralistas, seriamos nós mesmos, e não os
nossos inimigos, que fecharíamos as portas deste Movimento a que pertencemos.
- A
coisa é mesmo clara como água. Não entendi mais depressa porque era um
retardado mental, como o senhor chamou aos duros de entendimento; mas agora
estou vendo tudo, sim senhor. E me diga uma coisa: S o Integralismo, ideologicamente,
não pode ser extremista, do contrário negará sua própria doutrina, ele,
praticamente, não usou ou não pretende usar de métodos violentos?
- Quem
demonstrou que o Integralismo não usou, nem usa, nem usará de métodos violentos
foi o próprio conclave dos chefes de Polícia reunidos na Capital da República,
segundo entendo desta noticia de "O Globo", que aqui está. Isto foi a
desmoralização mais completa de todos os que nos acusaram de conspiração. Senão
vejamos. E agora sou eu quem vae perguntar a você:
- O
Integralismo é, ou não é, um Partido Nacional?
- É
sim senhor. Está registrado no Superior Tribunal Eleitoral.
- Se
ele se registrou como Partido Nacional, o seu programa era nacional ou
provincial?
- É
claro, que o seu programa só pode ser nacional.
- Se
o seu programa é nacional, o Integralismo tem algum interesse em tomar conta
isoladamente do governo de um só Estado?
- Ah!
O senhor parece que está brincando: pois é mais do que lógico que não. Ao
Integralismo só pode interessar o governo de toda a Nação.
- Muito
bem; está respondendo com discernimento, Diga-me agora o seguinte. Suponhamos
que os integralistas tivessem preparado uma conspiração, para usar de violência,
para tomar o Poder. Essa conspiração seria apenas em duas ou três unidades da
Federação Brasileira?
- Não
senhor. Se ele fizesse uma conspirata, faria em todos os Estados. Mas o senhor
parece que está brincando comigo. Sou um pouco burrego, mas não tanto.
- Está
direito. Responda-me, ainda. Se o Integralismo tivesse conspirado em todos os
Estados, que é que o Governo Federal deveria fazer?
- Fechar
o Integralismo.
- Perfeitamente.
É isso mesmo. Agora me diga: o Governo fechou o Integralismo, depois das acusações
que lhe fizeram três governadores de Estados?
- Não
fechou.
- Responda-me,
ainda: os governadores dos outros Estados fecharam o Integralismo?
- Também
não.
- Que
quer isso dizer?
- Que
o Integralismo não conspirou nesses Estados e que o Governo Federal entende que
o Integralismo não está conspirando.
- Pois
bem. Se o Integralismo não conspirou no todo, não poderia ter conspirado na
parte. Logo, o Integralismo nem conspirou, nem conspira, nem conspirará. Pois
sendo de sua natureza o ser nacional, não poderia manifestar-se como
provincial. O Governo bem o compreendeu.
- Então
que extremismo da direita é esse de que ainda se fala?
- É
um extremismo que não existe.
- O
Integralismo, então, quer mesmo vencer pelo voto?
- Que
dúvida? Timbramos em agir dentro da Lei, dentro da Constituição, e posso
garantir-lhe que não o fazemos pelos belos olhos dos que estão no Poder, mas
por uma questão de coerência doutrinária. Os que pretendem atingir o Poder
pelos métodos violentos são materialistas e unilaterais, são dialéticos,
soreleanos, hegelianos, marxistas. Nós somos espiritualistas, totalistas,
conciliadores, corporativistas, antimarxistas, integralistas.
- E se
o comunismo pretender dar um golpe?
- Aí
é outro caso. Somos a vergonha nacional, somos a dignidade da Pátria, somos o
brio brasileiro, somos as sentinelas da Nação. Se o comunismo erguer a cabeça, aqui
estamos firmes, para tudo dar a nossa Pátria, pois, para o integralista, mais
vale morrer com honra do que viver desonrado.
- O
Integralismo, então, não será fechado?
- Se
fechassem o Integralismo, estaria revogada a Constituição, enxovalhadas todas
as leis, pisado o princípio da Autoridade Federal, sufocados os legítimos
anseios da Nacionalidade, lançados aos maiores perigos todos os lares. Então,
não sei o que poderia acontecer neste país. Felizmente, vinte chefes de Polícia
mostraram-se à altura da sua responsabilidade, e, entre todos eles, Filinto
Miller, não só à altura dessa responsabilidade, mas da gratidão da Pátria e da Posteridade.
- Por
hoje é só.
Publicado
originalmente n’ A OFFENSIVA, em 07
de Novembro de 1936.