Plínio Salgado
O mais terrível, porém, de todos os
perigos imediatos é o que se apresenta quando o materialismo dogmático afivela
a máscara do materialismo agnóstico, baseando-se no que denomina “tática da
ação política”.
O marxismo revolucionário, desde o
famoso manifesto de 1849, veio passando por várias metamorfoses que, embora não
lhe alterassem a essência doutrinária, enriqueceram-lhe a fisionomia, dando-lhe
aquela mobilidade de aparências que sintetiza (como nenhuma outra forma de ação
humana) a face multi-expressional do espírito das Trevas. Abandonando a linha
clássica do socialismo científico, os neonarxistas estabeleceram métodos de
ação inspirados na teoria soreleana da violência e nos processos ardilosos de
Maquiavel.
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Podemos, assim, dividir, em três
fases a ação do neomarxismo: a da preparação,
a da execução e a do desenvolvimento da sua ideia. A fase da
preparação ou da dissimulação tática
é um misto de materialismo agnóstico e astúcia maquiavélica. A disseminação da
indiferença religiosa em todas as categorias mentais da sociedade enfraquece as
resistências nacionais e abre campo à repulsa dos deveres prefixados pela
disciplina moral. A prática da astúcia tem por fim tranquilizar os responsáveis
pela ordem religiosa vigente (1) aparentando respeito pela liberdade de
consciência e até mesmo pondo em relevo falsas identidades de propósitos com as
da doutrina religiosa. Utilizam-se, em espaços neutros, certos conceitos como a
fraternidade, a justiça, a intangibilidade da pessoa humana, conceitos que
perdem as colorações específicas de suas procedências para servirem a manobras
que contrariam a sua verdadeira, profunda e sagrada significação.
A fase da violência começa com o
golpe técnico no momento psicológico preciso em que deve atuar o “interferente
histórico”. Desde esse instante, a ideia do socialismo materialista
transfere-se do subjetivismo partidário à concretização objetiva do Estado e –
ao ritmo do mecanismo hegeliano – reflui em consequências novamente subjetivas
na massa popular. Finalmente, a fase do desenvolvimento atinge as formas
consecutivas do socialismo científico.
Na fase, pois, da preparação
psicológica indispensável à formação, a um tempo, da “consciência de classe” e
do desarmamento dos espíritos capazes de reagir, a política do neomarxismo,
confunde-se com a do agnosticismo burguês. São os períodos da perturbação geral
dos espíritos, que decompõem todo o aparelhamento de defesa das sociedades
espiritualistas desprevenidas.
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Nota:
1) Já em 1874, na
alocução feita à nobreza romana por ocasião do Natal daquele ano, Pio IX dizia:
“A princípio a Revolução nasceu tímida na aparência, obsequiosa e aduladora.
Chegou mesmo a mostra-se hipócrita e a enganar muita gente honrada abusando de
sua boa fé e misturando-se com ela até aos pés dos altares”.
Os temores de Pio IX vinham de muito
antes, pois na alocução dirigida aos peregrinos franceses, a 16 de junho de
1871, assim se exprimiu: “O que mais receio por vós não são os homens da
Comuna, verdadeiros demônios saídos do inferno; o que mais temo é o liberalismo
que se diz católico (não decerto os católicos chamados antigamente liberais,
pois estes têm-se por vezes portado condignamente com a Santa Sé) mas sim esse
fatal sistema que bem pode ser que algumas vezes se tenha mostrado generoso em
suas ações, mas é cobarde na maior parte, e medita e trabalha sempre para
acomodar duas coisas inconciliáveis: A Igreja e a Revolução”. (Trechos extraídos de transcrições na obra “Pio
IX, sua vida, sua história e seu século”, de Villefranche).
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Salgado, Plínio. O
Conceito Cristão da Democracia. 2ª edição. São Paulo: Ganumby, 1951;
transcrito das páginas 73, 76, 77 152 e 153.